sexta-feira, 22 de agosto de 2014

MEMÓRIA: ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS

ESPECIAL











Segundo consta, o molinete original foi feito pelos franceses. Não há uma data precisa para se dizer quando ele foi inventado. Mas a grande maioria dos pescadores o usam e bem. Vamos falar um pouco dessa máquina de prazer.








A maioria das histórias infantis começa com “era uma vez” ou “há muito tempo atrás”. Vamos começar esta matéria exatamente assim.
Há muito tempo atrás, um molinete muito famoso era o Mitchell 302 (de origem francesa), de tamanho grande, ideal para a pesca na praia. Na época, eu trabalhava em um banco, e fiz um mês de horas extras, à noite, para poder comprá-lo. A loja que o vendeu a mim era a Gonçalves Armas, que ficava na Libero Badaró, esquina da Avenida São João em São Paulo. Era no primeiro andar de um antigo prédio. Não me lembro quanto custou, mas posso dizer que era muito caro, haja visto o mês de extras.
Pescar com esse molinete era quase um “status” de bom pescador, pois poucos se viam iguais a ele nas praias. Mais ou menos na mesma época, ou um pouco mais tarde, apareceria um outro molinete que viraria coqueluche e até hoje é usado: o Esqualo, de origem argentina.

Molinete Esqualo.


Vários anos depois, inúmeras outras marcas apareceram e novidades foram surgindo, como a troca de lado das manivelas, regulagem da fricção embaixo do corpo, rolamentos e algumas coisinhas mais. A bem da verdade, a máquina foi inventada para não dar certo e deu – e isso eu explico: imagine uma máquina que enrola a manivela para a frente na horizontal e que tem um guia linha que sobe e desce (ou carretel) na vertical? Coisa de louco.
Pois bem, mais recentemente, apareceu mais uma novidade no velho molinete: os carretéis mais altos – para quem gosta de termos mais esnobes, “Long Cast”- para dar melhor vazão à saída da linha. Muito mais fáceis de serem manobrados do que as carretilhas, nas praias eles são praticamente insubstituíveis, pela distância que possibilitam nos arremessos. Eis aqui então o assunto principal desta matéria.
A bem da verdade, e antes que algum pescador se sinta menosprezado, podemos afirmar que a grande maioria dos pescadores de praia usam o molinete, mas existem aqueles que gostam de pescar com carretilhas e também o fazem bem. Esses pescadores que usam carretilhas estão mais localizados no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. No resto do Brasil, o molinete impera.

Esqualo e Mitchell


Até hoje, quem pesca com molinetes, ao mudar para carretilhas sente alguma dificuldade, já que o arremesso feito com o primeiro é muito mais simples do que com o segundo equipamento. Mas tudo é uma questão de prática e treino. No entanto, as distâncias que se consegue arremessar com molinetes dificilmente serão conseguidas com as carretilhas. Se compararmos os dois equipamentos, vamos perceber que o molinete joga mais longe e fácil, em compensação tem menor tração do que a carretilha, além de torcer a linha com muito mais intensidade, haja visto a sua maneira de enrolar a linha de pesca. 

               O novo e o velho, 35 anos de diferença na fabricação.  Foto da época.                                                                  

Carretel externo de molinete "moderno". Foto da época.



Pois aí está o “velho e bom molinete” sendo usado até hoje, principalmente em pescarias onde serão necessários grandes e longos arremessos. Mas tem pescador que, mesmo com as restrições que o molinete tem, não o dispensa em suas pescarias, seja no Pantanal, Bacia Amazônica, rios ou represas por esse Brasil afora.
E para terminar e confirmar a potencialidade do molinete em se tratando de arremessos, os campeonatos onde a distância é o alvo mais importante, foram e continuam sendo realizados com molinetes, em sua grande maioria. E para se ter uma idéia da potência de tais arremessos, já aconteceram “tiros”- assim são chamados pelos competidores - , que alcançaram marcas de mais de 200 metros. Nas praias, hoje, com um bom treino e equipamento certo, além de força, consegue-se jogar as iscas em torno de 150 metros, ou mais, o que por si só garante uma boa pescaria de peixes que dificilmente encostariam nas areias da praia. E mesmo que digam inverdades como “quem pesca com carretilhas é melhor pescador do quem, pesca com molinetes”, essa “maquininha maravilhosa”, que na Europa e muito mais usada do que a carretilha, vai continuar a existir, pelo menos enquanto houver peixes e pescadores. E viva o velho e bom molinete, que continua a servir à grande maioria dos pescadores amadores brasileiros.

Molinete Mitchell usado na época em competições de pesca na Europa.


NOTA DA REDAÇÃO: Esta matéria foi publicada na edição 76 em outubro de 2000, portanto a quase quatorze anos e, hoje, agosto de 2014, podemos notar que ainda é bem atual em seu texto. Mas quero dizer alguma coisa mais e principalmente à aqueles que se acham “mestres” na arte de pescar e dizem que o pescador que pesca com carretilha ou fly, é melhor pescador do que quem pesca com molinetes. O melhor pescador que conheci em toda a minha vida e tive a honra de com ele pescar e, muito aprender, usava varas de bambu simples e com linha do tamanho da vara. Aliás fiz uma matéria com ele lá no Pantanal, região de Morrinhos perto de Corumbá. Seu nome, ou como era mais conhecido: “seu Juju”.  Esse pescador, que hoje deve estar pescando no céu pois a ultima vez que estive com ele estava adoentado e com a saúde bastante abalada, era impressionante. Seu Juju olhava para o rio Paraguai e sabia que peixe estava “correndo” e o que estava comendo. Em nossas pescarias de pacu, olhando as folhas de camalote, ele distinguia as mordidas do pacu nos talos desse aguapé. Além disso, sabia precisar se a mordida era recente ou mais antiga. Dizer o que então? Ele era um mestre? Ou seria um mestre, com pós-graduação, mestrado e PHD em pesca? Você decide. Boa pescaria.

2 comentários:

  1. Toninho, muito boa e atual sua matéria. E me doeu o coração de saudades ao você falar do "seu Juju", o maior pescador de pacu que já existiu. Tive o prazer de conhecê-lo, mas não de pescar com ele. Um amigo meu saiu com ele um dia, e foram direto para uma cabaninha esperar a hora certa. Meu amigo ficou ressabiado e "seu Juju" disse: Não adiante ir agora, ele não vai comer. Tempos depois, falou: Vamos, está na hora. Foi uma pescaria maravilhosa e inesquecíver para esse meu amigo. Velhas histórias dos bons e romanticos tempos do Pantanal...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marcão: Muito obrigado. Pois é, seu Juju foi o maior pescador que eu conheci e que muito me ensinou. Pesquei várias vezes com ele lá em Morrinhos, se não me engano no Pesqueiro Tarunã do Ivam. Foi muito engraçado, já que fiz então uma matéria com ele na Aruanã e, o Ivam ficou "brabo", pois o pessoal ligava e queria pescar com seu Juju. Se ele não estivesse disponível o pessoal não fazia a reserva rs. A ultima vez que eu o vi, nós tínhamos saído para fazer um vídeo na Cabexy (do Orozimbo)e fiz questão de levar ele como meu convidado. Dormimos na mesma cabine e tive oportunidade de bater longos papos com ele. Ele me chamava de jornalista e dizia que eu tinha muita sorte na pescaria. Nunca mais voltei a vê-lo. deve estar pescando no céu. É isso. E como é bom lembrar de coisas boas de nossa vida.

      Excluir