terça-feira, 21 de abril de 2020

ROTEIRO - LULA EM CARAGUATATUBA











Na opinião de alguns pescadores, a pescaria de lulas não chega a ser uma pescaria, já que esse molusco não briga quando fisgado. Porém, conhecendo melhor a lula, vamos descobrir fatos bastante interessantes. Confira.

Costão oeste da Ilha Vitória, no litoral da praia de Caraguatatuba (São Sebastião-SP)
Ao ouvir falar em lula, a maioria dos pescadores tem pouca coisa a dizer, e o mais comum é fazer graça referindo-se àquela conhecida figura do mundo político. Portanto, é inevitável que durante a espera da fisgada desse molusco, várias piadas se apresentem, já que enquanto não acontece a ação da pescaria, pouca coisa melhor tem-se a fazer do que ficar jogando conversa fora. No entanto, ao pesquisarmos a lula, os vários aspectos que se apresentam são bastante interessantes. Vejamos: são cefalópodes pertencentes à família dos Loligenídeos. As espécies mais frequentes em nosso litoral são duas: Loligo brasilienses e loliguncula brevis. Recebem também o nome vulgar de calamares que, em italiano, de calamaio, significa tinteiro. 

A siba ou “pena” interna da lula. (Ilustração: Rodolpho Von Ihering)
Aí está, portanto, a primeira curiosidade, já que o nome “tinteiro” com certeza se dá devido ao fato de que as lulas, a exemplo de outros de sua família, como os polvos, expelem uma substância escura parecida com tinta, para sua proteção. E tem mais: em seu corpo há uma parte. Vulgarmente chamada de siba, muito parecida em seu formato com uma pena de galinha. Daí dizer-se que a lula “já vem com tinta e pena para escrever”. Devo confessar que essa foi a primeira vez que fiz esse tipo de pescaria e, quando a primeira lula foi fisgada, fiz questão de olhá-la bem, pois assim que saia da água. Ela parece um artefato artificial devido a seu formato, cor e características. Senti-me como uma criança quando pega um novo e desconhecido brinquedo nas mãos. 

Lulas
Mas vamos começar falando da pescaria em si. A isca, artificial, nada mais é do que um corpo redondo e fino, mais parecendo um giz de escrever. É feita de chumbo e tem uma linha branca enrolada em toda a sua extensão, que é de aproximadamente 10 centímetros. Na parte de cima há uma argola onde é amarrada a linha e na parte de baixo, com formato de guarda-chuva, há várias pontas semelhantes a anzóis, que diferem destes por não terem fisgas. Essas pontas, feitas de arame de aço fino, podem ser em número de 6 ou 8 e sua função é fisgar a lula. Os pesqueiros de lula devem obrigatoriamente estar localizados em chão de fundo de areia. Se houver pedras ou lodo, com certeza não haverá lulas.  

Pesqueiro de lulas
Em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, que foi onde fizemos esta matéria, os pesqueiros mais conhecidos são a Ilha Vitória, a Ilha de Búzios e três ou quatro locais na parte norte da Ilha Bela. Esta é uma pescaria que só pode ser feita embarcada, e a profundidade pode variar, pois é possível fisgar lulas em profundidade de até 30 metros. Na matéria estávamos pescando a uma profundidade de 10 metros, na Ilha Vitória. Como é uma pescaria simples, usa-se linhas de mão e pode-se usar várias linhas ao mesmo tempo, pois quando estamos em cima de um cardume (elas andam sempre assim), a produtividade é enorme. Dá-se o lance, deixando a ir até o fundo. 

Isca utilizada na pesca de lula  
Quando percebemos a batida no fundo, suspendemos a isca cerca de um metro.  Essa é a primeira opção. No entanto, ao longo da pescaria, é muito comum pesquisar-se outras profundidades, pois o cardume costuma se movimentar muito no decorrer do dia. Para quem nunca havia feito esse tipo de pescaria, tudo era novidade e, alertado pelos companheiros, fiquei sabendo que a lula não “belisca” a isca. Quando muito, causa um pequeno peso a mais, dependendo muito da sensibilidade do pescador para perceber essa diferença. De imediato, começamos a comparar essa pescaria à do black-bass com minhoca artificial, já que nessa modalidade o toque é também bem sutil. 

Grandes exemplares
Nós estávamos em cinco pescadores no barco, porém a quantidade de pessoas não atrapalha, já que desce-se a linha rente à boda da embarcação e pesca-se no fundo. Vez por outra, deve-se balançar a isca artificial, subindo e descendo, para atrair as lulas. A primeira lula que fisgamos foi dessa maneira. Subindo e descendo a linha, percebemos que o peso da isca havia mudado. Demos então um puxão mais forte (para fisgar) e recolhemos a isca sem dar folga alguma, pois as hastes de metal não têm fisga e, se afrouxarmos a linha, ela escapará. Recolhemos rapidamente e, assim que a lula chegou à superfície, uma nova curiosidade: ela jogava jatos de água para cima, jatos esses, jatos esses que chegavam até dois metros de altura. 

A seta indica o “reservatório de tinta” da lula


Dentro do barco, ela sai fácil dos “anzóis” e nesse ponto é preciso tomar cuidado: se a lula continuar a ser incomodada, ela lança um jato de “tinta preta” a fim de se defender, o qual, apesar da suleira que provoca no barco e nas roupas, felizmente não causa nenhum problema ao pescador. Outra curiosidade é quanto à coloração desta espécie. Assim que sai da água, sua cor é de um bege claro. Porém, quando colocada em local seco, rapidamente começam a se formar algumas pequenas pintas vermelho-amarronzadas que, segundo depois, já tomaram todo o seu corpo. Colocadas na geladeira, as lulas perdem essa coloração, voltando então a apresentar tons claros, onde predomina o branco. 
Ilha Vitória em São Sebastião-SP 
Ao segurar a primeira lula na mão, mais do que nunca tem-se a impressão de ser ela algo artificial, tal é a forma de seu corpo. Dentro de um cilindro sai de sua cabeça, com grandes olhos, oito tentáculos pequenos e duas hastes maiores. O tão também é todo especial, dando mais uma vez a sensação de artificialidade, apesar de ser um organismo vivo. Tudo isso é bastante interessante ao neófito pescador de lulas. Segundo nossos companheiros, em um bom dia consegue-se pagar facilmente 20 ou 30 quilos de lulas. Em nossa pescaria o dia não estava propício, mas mesmo assim fisgamos cerca de 20 lulas. Algumas até consideradas grandes, atingindo perto de 30 centímetros de comprimento. 


Os remansos são ótimos pesqueiros
A melhor época para esse tipo de pesca pode variar de ano para ano, começa em novembro, podendo se alongar até março ou abril/maio. No que se refere a horários, segundo os pescadores, a parte da manhã, bem cedo, será sempre melhor, até mais ou menos dez horas. Depois, o horário apropriado será do fim da tarde até o escurecer. E mais uma vez a história se repete quando consideramos que, em matéria de pesca, estamos sempre aprendendo. Aprendemos agora a pescar lulas graças aos companheiros Bira, Luís Pardini, Pedro e Nelson de Mello. Agradecemos também à Eliana e ao Dirceu, do Jundu Hotel, muito bons pescadores de lula lá em Caraguatatuba. Finalizando, diríamos que embora não sendo essa pescaria uma das modalidades mais emocionantes, na mesa o sabor das lulas é sensacional (veja a seguir uma receita excelente). Boa pescaria e bom apetite.



Revista Aruanã Ed:55 publicada em 02/1997

quinta-feira, 16 de abril de 2020

ESPECIAL II A QUESTÃO DOS PEIXES DE PIRACEMA E AS ESCADAS DE PEIXES





M.P. de Godoy, biólogo e pesquisador, além de manter o Museu de História de Pirassununga (SP), há vários anos faz pesquisas ictiológicas e vem trabalhando para a implantação de escadas para peixes. Veja o que ele diz a respeito.

Fig.1 – Primeira escada construída no Brasil em 1911. Local: Barragem da UHE Itaipava rio Pardo, Estado de São Paulo, entre os municípios de Santa Rosa de Viterbo e Cajuru. Desnível vencido de 7m;largura de escada variável, entre 1,5 e 2,0m. Forma: em forma de degraus-tanques, com passagens de fundo para peixes de couro e de placas ósseas, respectivamente, mandi e cascudos. FOTO: 21/10/1984. Em 1985 esta escada foi reformada e recebeu uma grande telada, de ferro e arame galvanizado e em todo o percurso. 
Há 50 anos estudamos a questão das migrações de peixes, as barragens e outros obstáculos e as passagens de peixes, para lhes permitirem as migrações reprodutivas, tanto no Brasil como em outros países. Através de anos de trabalhos e de providências, conseguimos ainda reunir as mais diversas informações e documentos relativos a tais assuntos, os quais se acham em nossos arquivos. Os chamados peixes de piracema dos rios brasileiros, como o dourado, o curimbatá, a piava, a piapara, o mandi guaçu, o pintado e muitos cascudos, dependem de amplas migrações anuais e de um ecossistema formado por dois ou mais rios que se intercomunicam, visando à reprodução e a alimentação. Por nossos trabalhos de marcação de peixes realizados entre 1954 e 1963 e cujos resultados foram colhidos até 1971, no sistema Mogi-Pardo-Grande, bacia superior do Rio Paraná, no Estado de São Paulo, ficamos sabendo que os peixes de piracema têm dois “lares”: o “lar de reprodução”, onde desovam e o “lar de alimentação”, onde se alimentam, crescem e engordam. Entre os dois “lares” ficam as vias migratórias, numa extensão de algumas centenas de quilômetros e necessariamente, os obstáculos artificiais, como as grandes barragens, interrompem o ciclo migratório e, em resultado, os peixes não completam seu desenvolvimento sexual e não encontram os estímulos naturais para a reprodução e a manutenção dos estoques pesqueiros, que tendem a desaparecer. Assinalamos que o setor elétrico brasileiro, tanto na iniciativa particular como na oficial, em parte, não descuidou do assunto Peixe, mesmo através de providências, às vezes, pouco eficientes e ineficazes. Como resolver a questão? Construindo passagens de peixes adequadas e funcionais, para que seja garantida a continuidade das migrações reprodutivas. 

Fig.2- Escada de peixes em construção; ano 1942. Local: Barragem em Cachoeira de Emas, rio Mogi Guaçu, município de Pirassununga, Estado de São Paulo. Esta foi à terceira escada de peixes construída no local. Dados gerais: desnível original vencido: 3,0m; comprimento total: 31,5m; largura do 1º degrau-tanque: 15.70-m; largura da barragem: 17.70m. Forma: em degraus-tanque: 15,70m; largura na barragem: 17.70m. Forma: em degraus-tanque (5), com abertura de fundo e laterais, nos degraus-tanques, para a passagem de peixes de couro (mandis) e de placas ósseas (cascudos). Funcionamento: esta escada funciona há 50 anos (1942-1992) e quando operada regularmente, permitia a passagem de cardumes de 100.00 a 160.00 peixes em 4 e 6 dias de migrações reprodutivas (anos de 1954 a 1960). (Ainda, veja Godoy, 1987: 139-151)
                                          O QUE ACONTECEU NO BRASIL
Desde 1911 temos escadas de peixes no Brasil, como a de Itaipava, no Rio Pardo, entre os municípios de Santa Rosa de Viterbo e de Cajuru, no Estado de São Paulo e a partir de 1920, no Rio Mogi-Guaçu, em Cachoeira das Emas (Pirassununga-SP). A atual escada de peixes de cachoeira das Emas (a terceira construída no local), neste 1992 completa 50 anos de existência e quando operada eficientemente permite a passagem normal e fácil dos peixes de piracema. A partir de 1927 a antiga Light&Power, de São Paulo, começou a se preocupar com o problema de peixes migratórios. Naquela época a Light começou a construir as primeiras grandes barragens e com alturas superiores a 10m. No Estado de São Paulo, visando a conservação dos peixes migradores, havia a Lei nº2.250 de 28/12/1927 e no seu artigo 16, estabelecia o seguinte: “Todos quantos, para qualquer fim, represarem as águas dos rios, ribeirões e córregos, são obrigados a construir escadas que permitam a livre subida dos peixes”. Na esfera federal, pelo Decreto nº24.643, de 10/7/1934, através de seu “Código de Águas”, ficou assim recomendado: “Art. 143 – Em todos os aproveitamentos de energia hidráulica serão satisfeitas as exigências acauteladores dos interesses gerais. (f) – da conservação e livre circulação do peixe”.  Pelo Decreto-lei nº794, de 19/10/1938 (Primeiro Código de Pesca), ficou estabelecido: “Art. 68 – As represas dos rios ribeirões e córregos devem ter, como complemento obrigatório, obras que permitam a conservação da fauna fluvial, seja facilitando a passagem dos peixes, sejam instalando estações de piscicultura”. Posteriormente, ainda tratando da questão dos peixes e dos reservatórios, na área federal, foram assinados os novos regulamentos: Decreto-lei nº 221, de 28/2/1967, a Lei Delegada nº 10, de 11/10/1962 e a Portaria N-0001/77, de 04//; 01/1977, da antiga SUDEPE. 

Fig.3 – Escada de peixes – barragem de cachoeira das Emas, rio Mogi Guaçu, Pirassununga, Estado de São Paulo. Destaque: é a escada de peixes mais funcional, dentre as 36 construídas no Brasil, quando operada corretamente. No passado (1954-1960), quando ocorriam as grandes migrações reprodutivas, cardumes de 100.000 – 160.000 peixes conseguiam ultrapassa-la, respectivamente, em 4 e 6 dias.
“Em 1927 a Secretaria da Agricultura de São Paulo e a Light&Power, com a intenção de resolver a questão dos peixes migradores e as barragens, mandaram buscar nos Estados Unidos um técnico”, Mr. Brunson, que lá era piscicultor e não entendia nada da biologia dos peixes de piracema. Depois de um tempo entre nós, Mr. Brunson deixou um documento que diz, resumidamente: “nos Estados Unidos eram construídas escadas, em barragens, para peixes migradores anádromos, como o salmão (vive no mar e desova em água doce)”. Como os nossos peixes de piracema só migravam dentro de rios (não eram anádromos; eram potomódromos) não precisavam de escadas. Outra maravilha do Mr.Bruson: “que os peixes brasileiros migradores, não tem capacidade  de ultrapassar escadas em barragens acima de 8 metros de altura”. A desgraça de tais afirmações, em prejuízo dos peixes brasileiros, foi que o Dr. Rodolpho Von Ihering, considerado o “pai da piscicultura brasileira”, avalizou as declarações de Mr.Bruson. Ademais, como a Light estava construindo barragens com mais de 10 metros de altura... resultou que as declarações de Mr.Bruson “autorizaram a Light para se desobrigar de construir passagens de peixes. E tal posição, contra escadas de peixes do Brasil, vigorou fortemente até 1986, com trabalhos publicados pela CESP (Companhia Energética de São Paulo), que afirma: “as escadas eram onerosas e anti-biológicas, não sendo eficientes em barragens de altura superiora 6-8 metros” (em Machado ET alii, 1968:2) e mais: “As escadas em barragens com altura superior a 8 m tornam-se ineficientes, pois são raros os peixes que conseguem galgar o nível de montante,...” (em Torloni, 1984:5).

Nota da Redação: tendo em vista o Brasil de hoje, 2020, onde muito se mostra em corrupção em todos esses setores de construção, podemos citar que há evidentes indícios de que tudo foi programado para que as escadas de peixes fossem abolidas nas grandes represas, contando para isso, corromperem “autoridades” como Mr.Bruson e até altos funcionários da Secretaria da Agricultura e da CESP.

Fig.4 - Escada de peixes – barragem de cachoeira das Emas, rio Mogi Guaçu, Pirrassununga, Estado de São Paulo. Destaque: detalhe para mostrar os degraus-tanques da escada, com os “buracos” de fundo, para a passagem de peixes de couro (mandis e outros) e de placa ósseas (cascudos). Foto tirada em 11-09-1991, por ocasião da inspeção feita pela CESP, visando a segurança da barragem, quando toda a água do rio foi desviada pelo canal de fundo do vertedouro da barragem
                                 ESCADAS DE PEIXES E OUTRAS FACILIDADES
Europa: 1. Suíça – Na pequena Suíça foi construída a primeira escada de peixes do mundo, nos limites da cidade de Bern, sobre o Rio Aar, vencendo um desnível de um pouco mais de 2 metros de altura e no ano de 1640. Esta escada funciona até hoje! Atualmente, a Suíça possui 50 escadas de peixes em operação, para peixes migradores.
2. França – A França começou a construir escadas para peixes antes de 1789. Conforme Gobim e Guenaux (1907:189) em Pontgibaud, sobre o Rio Sioule, em 1789, foram contados 1.200 salmões que subiam através da escada. Em 1981 obtive do Dr. J.Bard, especialista Francês em peixes, pesca e piscicultura, a seguinte informação: “Infelizmente não posso lhe dar uma resposta muito interessante, pois a poluição crescente praticamente expulsou as espécies migratórias e particularmente o salmão de nossos rios”.
3. Noruega – A Noruega é o país europeu com maior experiência em escadas e outras facilidades para a subida de peixes. A primeira escada foi construída em 1870, no Rio Gaular, no sudoeste do país. A segunda escada para peixes (salmões) foi construída no Rio Sire, que deságua no Mar do Norte e, inteiramente, de madeira, no ano de 1880-81 e o desnível vencido foi de 27,2m, de um salto natural. Segundo informações do “Direktoratel for Vilt og Ferskannsfish” de Trondheim, Noruega, estão operando no país340 escadas de peixes.

4. Antiga União Soviética – Muitas passagens de peixes foram construídas na antiga União Soviética e sobre tais assuntos há uma publicação de 1967, com o título “Rybopropusknye sooruzheniya Sovestskogo Soyuza” (Passagens de peixes em Hidro Projetos da URSSR). 

Fig.5 – Escada de peixes – barragem de Cachoeira de Emas, rio Mogi Guaçu, Pirrassununga, Estado de São Paulo. Destaque: dois curimbatás (Prochilodus scrofa), em migração reprodutiva (de rio acima), ultrapassando a escada, sem saltos entre o 4º e o 5º degrau-tanque. Foto: 26/10/1959.
Na antiga União Soviética foram construídas passagens de peixes em declives, em escadas em degraus-tanques, através de elevadores e barcaças. Para projetos com barragens até 30m de altura, os russos utilizaram as escadas de peixes; acima dessa altura, utilizavam elevadores e barcaças, quando há eclusas de navegação operando. No Rio Volga foram construídas 8 grandes barragens para aproveitamento hidroelétrico, ao longo de seus 2.700km de extensão e as barragens foram providas de escadas de peixes e elevadores.
5. Portugal - Mencionamos Portugal pela singularidade: Conforme informação do técnico português, Dr. Mario Silveira da Costa. Quando à pergunta se em Portugal havia escadas de peixes, respondeu: “Por cá não existem estas “benesses” para os peixes, motivo por que não lhe posso mandar o que deseja”. E daí, mais uma razão porque no Brasil se descuida das “benesses” (escadas) para nossos peixes. (Na pátria-mãe, Portugal, não há tais preocupações).
Ásia: 6. Japão – O Japão possui um pouco mais de 2.000 reservatórios, sua área territorial se aproxima de 1/10 da do Brasil e tem uma população de cerca de 130 milhões de habitantes. Qualquer recurso natural, auto-renovável, como os peixes, é estudado e merece dos japoneses os cuidados para sua conservação. Lá as passagens de peixes são construídas em várias formas de facilidades e em alturas cujas barragens chegam a 20m. (país sujeito a terremotos).
7. Iraque – O Iraque, onde está o histórico Rio Eufrates, berço da civilização neolítica há 6.000 anos, com seus 1.213km de comprimento, possui 43 espécies de peixes fluviais, migradores e alguns de bom tamanho.


Fig.6 – Escada de peixes – barragem do Açude “Poço do Barro”, Morada Nova, Estado do Ceará. Dados Gerais: desnível da escada: 15,0m; comprimento total da escada: 162,5m. Foto: março/1994.
 Chegando a medir até 2.0m de comprimento e a pesar 100kg, como é o caso do “bizz”. Na atualidade, o Rio Eufrates possui 4 escadas de peixes em operação. Em 1982, por solicitação da Themag Engenharia, de São Paulo, colaboramos na elaboração de um projeto de escada de peixes visando uma concorrência internacional, para a barragem de Nova Hindiya, Rio Eufrates, com uma altura de 8m.
América do Norte: 8. Estados Unidos - Conforme memorando que recebemos do U.S. Fish and Wildlife Service, só na área federal, existem, 100 escadas ou passagens de peixes operando e há mais 150 novas escadas ou passagens em projetos adicionais. Nos Estados Unidos são construídas escadas de peixes para barragens até 60m de altura; para altura maiores são utilizadas elevadores, barcaças e caminhões-tanques. No Rio Clackamus, no Estado de Oregon, há uma passagem de peixes com 2.720m de extensão e num desnível de 59,4m, destinada à passagem de salmões migradores do Pacífico. Em pesquisas de Collins & Elling (1960:8) foi revelado que os peixes não apresentam uma evidência de fadiga em modelo de escada com declives de 1:8 e 1:16 e com fluxo normal e atrativo de águas, através dos degraus-tanques das escadas. Os lactatos de sangue, a mais sensível das medidas bioquímicas, mostraram um moderado aumento durante a subida e voltaram aos níveis de controle dentro de uma hora. Em testes realizados e, escadas experimentais, houve salmões que subiram, durante 5 dias consecutivos e continuamente, através de 6.600 degráus-tanques, com declive de 1:8; um salmão venceu tal altura ascendente e equivalente a 1 milha (= 1.609,3m)!


Fig. 7 e 8 – Escada de peixes (salmões), construída na Noruega, em Fiskumfoss, no rio Namsen, centro do país. Vence um desnível de 35 m (o mais alto da Noruega) e seu comprimento total é de 291m, dos quais 200m estão situados dentro de um túnel, escavado na rocha bruta, No total, possui 77 degraus-tanques. Foto: abril/1982.
América do Sul: 9. Venezuela – Na Venezuela a legislação, no que se refere à lei de pesca diz o seguinte: “Las represas y los diques em general serán construídos em forma que permitam em paso de los peces mediante escalas com inclinación de cuarenta e cinco grados”.
10. Argentina – Na Argentina, a lei sobre peixes e pesca, obrigatoriamente exige que as barragens tenham passagem de peixes. Somente para citar o Rio Paraná, onde estão sendo desenvolvidos grandes projetos de hidroelétricos , como de Corpus, de Yaciretá-Apipe e Cahapetón, há projetos de duas escadas de peixes e outros procedimentos de passagem, para cada barragem citada, as quais terão entre 25 e 38m de altura.
No Brasil, país com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, com imensas redes hidrográficas, com a presença de mais de 1.500 espécies de peixes continentais, muitos dos quais são de piracema, não se deu a devida atenção aos nossos peixes e à sua permanência nos rios. Temos apenas 36 escadas de peixes, das quais 23 estão situadas nas áreas de açudes do Nordeste, onde os rios são perenes! A Eletrobrás, para seu projeto 2010, de eletrificação para o país, projetou muitas barragens para a Amazônia, onde o peixe tem uma importância geral considerável; em nenhuma dos tais projetos a Eletrobrás se preocupou com o meio ambiente, na amplitude necessária; não se preocupou com os peixes migradores amazônicos e, muito menos com qualquer forma de passagem, através de futuras barragens. E tudo isto numa época de nova valorização do meio ambiente, com a significação da biodiversidade, considerando, adicionalmente, os resultados da ECO-92, quando foi declarado que cada ser vivo do planta ou animal não é somente um bem local, mas um patrimônio da humanidade!


Fig. 7 e 8 – Escada de peixes (salmões), construída na Noruega, em Fiskumfoss, no rio Namsen, centro do país. Vence um desnível de 35 m (o mais alto da Noruega) e seu comprimento total é de 291m, dos quais 200m estão situados dentro de um túnel, escavado na rocha bruta, No total, possui 77 degraus-tanques. Foto: abril/1982.
COMO CONSTRUIR UMA ESCADA DE PEIXES E OUTRAS FACILIDADES DE PASSAGEM
No Brasil, em geral, as escadas de peixes não funcionam, ou funcionam precariamente, na maior parte das vezes. Daí o pensamento generalizado de que as escadas não funcionam e não resolvem a questão dos peixes migradores..., que ouvimos e lemos com freqüência. É que comumente, as escadas existentes no país padecem de muitos erros: foram mal planejadas; mal desenhadas, mal projetadas, mal construídas; foram localizadas em lugares errados e, no mais importante dos requisitos: não são operadas adequadamente pelo setor elétrico respectivo. Ainda, para o funcionamento de uma escada de peixes, no Brasil, não há prioridade; a prioridade está com a geração elétrica. O que se vê e se sente é o seguinte pensamento e conduta: o meio ambiente que se dane...é o que vemos com frequência. Das 36 escadas de peixes existentes no Brasil, 2/3 delas foram planejadas e construídas por pessoas não qualificadas e sem observância do principal, isto é, aos critérios básicos, tanto os biológicos, como os de Engenharia Civil (GODOY, 1985:25-27). E somente para encerrar e alertar os interessados, informamos que há uma soma de cerca de 124 critérios gerais e que devem ser, rigorosamente, obedecidos na concepção, no desenho, no projeto geral, na construção e na operação de uma escada de peixes. De resto, o que vemos, na maior parte, é apenas uma sequência de erros e de bobagens, quanto essa momentosa questão, relativa à sobrevivência dos peixes de piracema, hoje, patrimônio da humanidade, como um dos acertos resultantes da ECO-92.
NOTA DA REDAÇÃO: No fechamento desta edição, recebemos do Prof. M.P.Godoy a informação de que o mesmo acaba de fechar um contrato com o Ministério da Ciência e Tecnologia, onde exercerá o cargo de pesquisador e consultor do CNPq (Conselho nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico) O contrato, sob número 304485/76-4 (RN) tem validade de 2 anos.

                                                 (O ProfM. P. Godoy faleceu em 14/10/2003)

Revista Aruanã Ed:31 Publicada em 12/1992



sexta-feira, 10 de abril de 2020

A RESSACA 04/2020 - UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA




Em tempos de Corona Vírus afetando todo o planeta, os Prefeitos de Ilha Comprida e Iguape, ficam “duelando” com Decretos, para ver quem proíbe quem. Ao mesmo tempo em que a briga se arrasta, agora com determinações judiciais do TJ do Estado de São Paulo, liminares estão sendo protocoladas, para se defenderem.  A população, como sempre, a maior prejudicada, a tudo assiste impotente, tendo negado o direito de sair de uma para outra cidade, por essas idiotices/insanidades municipais. Enquanto isso, o mar ressacado fazia sua “obra” nas praias da Ilha Comprida. As fotos abaixo dão uma ideia da atual situação. Confira, acabamos de postar.
http://revistaaruana.blogspot.com.br






 (Foto 1)O trecho atingido ontem 09/04. Essa ação deixou moradores sem água e energia elétrica. Abaixo o mesmo trecho em Outubro de 2016.

O ressaca em outubro de 2016. Era visível os materiais usados pela Prefeitura para tentar barrar a força da água: restos de calçamentos de ruas na cidade, tais como guias, calçamento de pedras sextavadas, postes etc. Todo esse trecho hoje, não existe mais.

Máquinas da Prefeitura de Ilha Comprida trabalhando no local. Atividade: tapando os buracos feitos pela ressaca, com areia da praia.

 Diversos Kms ao longo da estrada da Ponta Norte, coberto de areia. Felizmente o asfalto não foi prejudicado.


 O pavimento da estrada não foi danificado neste ponto, já que existe ainda um pequeno barranco original, que segurou as ondas. Mas árvores caíram.


Aqui era o começo da estrada perto das dunas. Na foto 1, o que restou dessa estrada.



As maquinas usam a própria areia para tentar segurar as ondas. Hoje (10/04), por volta das 17hs, haverá outro pico da maré de lua cheia com 1.40m de altura. Se a ressaca não diminuir sua força, os estragos podem ser iguais ou até maiores.

                                                            QUE DEUS NOS PROTEJA
                                               

quarta-feira, 8 de abril de 2020

ESPECIAL - NÃO ERA ÉPOCA








Todos os anos, a história se repete com os mesmos detalhes. O pescador amador marca sua pescaria no Pantanal e depois de gastar muito, percebe que a pescaria não teve o sucesso por um fato muito simples, “já havia passado a melhor época de pescar”. Como evitar essa falha? É o que veremos a segui.


Pantanal cheio 
Em primeiro lugar, temos que saber que o Pantanal pode e deve ser dividido em três regiões, a saber: Pantanal norte (região de Cuiabá), Pantanal centro (Região de Corumbá), Pantanal sul (região de Porto Murtinho). Como ocorre todos os anos, desde que o mundo é mundo e que existe o Pantanal, existem duas épocas distintas: a das chuvas e a das secas. E mais, sempre começa a chover no norte, mais ou menos em outubro/novembro. Vamos imaginar que todo o Pantanal é uma grande concha. Ora, com a chuva no norte, essa região ficará alagada, com os rios sujos, água nos campos e portanto ruim de pesca. Por volta de março, dependendo da chuva, que determinou a altura da cheia, a água começa a limpar e nos rios a piscosidade aumenta e muito, tendo então o pescador amador que escolheu essa região para pescar, muito mais sucesso. 

Pássaros denunciando movimentação de cardumes 
Vamos tomar por base o rio Paraguai para dar a dica seguinte e esta não é imaginária, pois está cientificamente comprovada: a vazão desse belo rio, desde sua foz até o Oceano Atlântico, é de aproximadamente um centímetro por quilômetro. O próprio pescador amador pode raciocinar então que, com esse declive suave, toda a água acumulada pelas chuvas começará a descer da região norte para a região centro e depois para a região sul. Tal prática é inevitável. Pois bem, uma boa dica é saber o quanto choveu no norte e que altura a cheia atingiu. Para saber disso o pescador pode acompanhar o noticiário da imprensa, que fala sempre, às vezes com sensacionalismo, das enchentes pantaneiras. Se a cheia foi muito forte, a melhor época para a pesca na região norte é mais ou menos um mês depois que as águas começarem a baixar. Isso pode acontecer em março ou abril e talvez até antes. Ora, se em março ou abril o norte está cheio, o mesmo não acontece no centro e no sul. 

Dourado fisgado em corredeiras de corixos 
Pela prática, podemos dizer que as águas do norte chegarão ao centro mais ou menos a partir de maio e no sul a partir de julho. Nessa época, no centro e no sul, diferentemente do norte, onde as águas estão baixando os rios começarão a subir, provocando então as mesmas enchentes e notícias da imprensa. Vamos colocar então, como informação principal para a nossa pescaria, como exemplo o mês de março, com base na região norte. A resposta a nossa pergunta tem que ser segura e verdadeira. No mês de março vem a informação de Cuiabá dizendo que o nível dos rios começou a baixar, por exemplo, três centímetros por dia. Pronto, o período da vazante e aí o pescador que quiser marcar sua pescaria para o Pantanal norte pode se preparar.  A sua disposição, para uma boa pescaria, estarão os meses de março até junho ou julho e, se houver chuvas atrasadas, até agosto e meados de setembro. Outra dica: se no Pantanal norte as águas começaram a baixar três centímetros por dia, com certeza (isso é regra), no Pantanal centro o nível da água estará subindo. 

Corixo na época das cheias
 Afinal de contas é a mesma água “ladeira” abaixo. Quando as notícias derem conta que no Pantanal centro as águas começaram a baixar, e isso ocorre mais ou menos em junho, e na mesma proporção de alguns centímetros por dia, é o sinal para marcar sua pescaria para essa região. Na região sul, o nível das águas na mesma época, ainda estará subindo, e a dica é esperar também que comece a baixar, o que deve ocorrer por volta de agosto e setembro. A bem da verdade, deve-se dizer que os meses citados nesta matéria podem ser diferentes, pois o que irá determinar o mês certo será a quantidade de chuvas que cair, determinando a altura da cheia. Pronto, aí está uma regra que deve ser rigorosamente obedecida, para quem quer ir pescar e pescar bem. Uma outra dica muito importante: pela nossa experiência, diríamos ou aconselharíamos ao pescador que procure pescar sempre quando começar a vazante, com o nível de água ainda alto. 


Pescando nas praias 
Eu explico: Com bastante água limpa movimentando-se na vazante, a água do Pantanal estará nos campos, onde se pescará muito bem o pacu, no sistema de batida, tanto no campo como na saída deste para o rio. Os corixos estarão cheio e nas suas entradas ou saídas para o rio irão se formar pequenas corredeiras, onde a água correrá mais rápida. São os melhores locais para a pesca de pintados e dourados. Quando as primeiras praias começam a aparecer, as beiradas são excelentes pesqueiros para pintados e jurupocas. Com a água no mato, e se houver um ninhal em cima das árvores, estes locais tornam-se excelentes para a pesca esportiva da piraputanga. Para finalizar, diríamos ainda que, com a vazante, as saídas de água para o rio são ótimos pesqueiros, pois estas águas estarão trazendo as iscas naturais para o rio principal. Citamos tais iscas: frutas e coquinhos (pacu); pequenos peixes, que se movimentam em cardumes, para saírem dos baixios e não ficarem presos em lagoas, tais como: lambaris, sauás, saírus, traíras, jejus, tuviras, etc. (dourados e pintados). 

Capivara na época das secas
 Finalizando então, podemos afirmar que todas estas dicas acontecem exatamente iguais, porém em épocas diferentes, nos “Três Pantanais” aqui citados. No entanto, se o pescador continuar a marcar sua pescaria com um ano de antecedência, ele estará jogando com a sorte. Se suas férias coincidirem com o período e a quantidade de chuvas e cheias certas, “aleluia”, a pescaria será excelente. Se não, haverá a triste constatação de que, mesmo com todo o dinheiro gasto, “não era a época certa”, desculpa essa que além de não explicar, não justificará o mau resultado. Dica final: NUNCA pergunte ao dono do pesqueiro como está de peixe, pois esperando sua presença e seu dinheiro, ele, com raras exceções dirá sempre que está muito bom de peixe. Com sua chegada e verificação de que não está tão bom assim, a justificativa será sempre a mesma: o cardume estava aqui “na porta do pesqueiro” ainda ontem. 

Rio na época das secas 
E lá se vai nosso rico dinheirinho e não vêm nossos pobres peixinhos. Por essa razão em com extremo conhecimento do Pantanal, foi que o Orozimbo Decenzo, construiu sua Cabexi “A nave mãe do Pantanal”, em Corumbá, com apenas oito lugares e com ela ia onde estava o peixe. Foi o pioneiro com esse tipo de atendimento, que ele fiscalizava com rigor e pessoalmente, a todos seus amigos e clientes que se utilizavam do seu serviço. Ninguém pegava peixe abaixo do limite e nem superava a cota de pescado exigida por lei. Sem dúvida foi o maior defensor do Pantanal. Deus o tenha.
NOTA DA REDAÇÃO: Eu conheci um “pesqueiro” que fazia sempre isso. Depois de que o grupo de pescadores ia embora, a cara de pau do sem vergonha era tanta, que após dois ou três dias, ele tinha a safadeza de ligar para o chefe do grupo dizendo que, “foi só eles irem embora, que o cardume de dourados e pintados tinham voltado”. Conto o milagre, mas não digo quem era o santo.

Revista Aruanã Ed:25 Publicada em 12/1991

sábado, 4 de abril de 2020

DICA - O LUGAR CERTO NA PRAIA










Muitos pescadores adeptos da pesca de praia pensam que quanto mais longe lançarem suas iscas, melhores serão os peixes fisgados. Será isto verdade? Confira.


Praia de tombo 
Para iniciar corretamente está matéria, temos a esclarecer que existem dois tipos de praia em todo o litoral brasileiro: praia rasa e praia de tombo. A seguir, iremos abordar as dicas e segredos desses dois tipos de praia, assim como os locais certos para lançar nossa isca.
                                                    PRAIAS DE TOMBO
São aquelas tradicionais onde quase não há ondas e não é preciso entrar na água para dar os arremessos, sendo muito cômodas à prática da pesca amadora. Normalmente, nossos carros ficam juntos a nós e, portanto, nossa tralha de pesca pode ser mais volumosa, levando-se até um guarda-sol e cadeiras. Pode-se facilmente pescar com três varas. Quanto ao uso de três varas, esclarecemos que só é aconselhável em praias de tombo, já que em outro tipo de praia essa prática torna-se muito trabalhosa. Podemos usar, então, uma vara barra pesada, uma barra média e uma barra leve. A barra pesada será aquela em que armaremos anzóis maiores, linhas mais grossas, bem como chicotes mais resistentes. Podemos até usar encastoados de aço nos anzóis, já que nosso principal alvo será o cação. O arremesso desse tipo de equipamento não tem lugar determinado. Aconselhamos ao pescador que lance sua isca o mais longe possível, já que o peso da chumbada, iscas, anzóis e encastoados dificulta muito o arremesso. 

Praia rasa 
A melhor isca para essa modalidade será o filé de peixe, de preferência fisgado na própria pescaria. Recomendamos o uso de betaras, paratis-barbudos ou qualquer outro peixe pequeno. Se não houver quaisquer dessas iscas à disposição, opte pela tradicional sardinha. A barra média será a vara de pesca que nos dará maior trabalho, pois com ela teremos que pesquisar onde se encontram os cardumes. Teremos que dar vários arremessos, começando sempre pelos mais longos. De acordo com o resultado, deve-se diminuir a distância em cerca de 20 metros de cada vez, até chegar a uma distância mínima de 30 metros. Use anzóis com tamanho correspondente aos peixes do próprio local, lembrando sempre da máxima: “um anzol pequeno fisga peixes grandes e pequenos; um anzol grande só fisga peixes grandes”. As melhores iscas para esse tipo de pesca serão as da própria praia, tais como corruptos, sarnambis, tatuíras etc. Não dispondo dessas iscas, opte pelas tradicionais, tais como camarões mortos, sardinhas, paratis e manjubas. Na pescaria, a barra média deverá ficar sempre nas mãos do pescador, porém é permitido o uso de suporte de praia, desde q           eu o pescador permaneça sempre atento. A barra leve é uma vara de pesca muito importante e deve ficar, a exemplo da barra pesada, na espera. O lugar certo para jogar a isca será sempre 2 ou 3 metros após a arrebentação, ou seja, praticamente na areia. 

Iscas naturais 
Não se impressione com isso, pois em praias de tombo muitas vezes o peixe se encontra onde a areia está sendo mexida, ou seja, exatamente junto à arrebentação. As melhores iscas para esse local serão mais uma vez, as da própria praia. Use equipamento leve, com exceção dos anzóis, que devem ser médios, já que muitas vezes grandes peixes serão fisgados nesse local.
                                                   PRAIAS RASAS
Nas praias rasas, uma regra deve ser respeitada: Pesque sempre com duas varas, sendo uma barra pesada. Proceda da mesma maneira que com a vara barra pesada usada na praia de tombo, com uma única diferença: lance a isca dessa vara sempre no último canal de praia ou após o mesmo e coloque a vara no suporte à espera. NR: Regule a fricção do equipamento bem leve. A barra média, que também pode ser a leve, é a vara de pesca na mão do pescador e é com esse equipamento que deveremos pesquisar onde o peixe está. Normalmente, começamos pelo segundo canal e conforme o resultado vamos ao terceiro e ao primeiro canal da praia.  Em algum desses canais, com certeza iremos descobrir onde os peixes estão mais ativos, e essa presença em determinado local pode mudar no decorrer do dia. As melhores iscas, mais uma vez, serão as da própria praia e em praias rasas normalmente encontraremos corruptos, sarnambis, tatuíras, minhocas de praia e siris brancos entre outras. 
Barra pesada e média no suporte 
Dicas finais: Quando falamos em canais de praia, deduzimos que o pescador amador que está nos lendo saiba do que se trata, já que por diversas vezes explicamos que as praias rasas têm canais facilmente identificados pela perda da espuma das ondas. Para facilitar, aconselhamos que adquiram a nosso vídeo “Pesca de Praia”, onde mostramos em detalhes como proceder a localização dos canais em praias rasas.
                                                   TIPOS DE VARAS DE PESCA
Quando falamos de barra pesada, média ou leve, estamos nos referindo sempre à potência da vara para arremessar diversos pesos. Será considerada barra pescada o molinete ou carretilha de maior tamanho, e assim sucessivamente para a barra média e barra leve.  
                                                     LINHAS PARA A PESCA   
Este é um capítulo todo especial, já que aconselhamos sempre que se use uma linha fina em qualquer dessas citadas barras. Assim sendo, as bitola entre 0.20 a 0.30mm serão mais do que suficientes para usarmos na pesca de praia. Apenas um lembrete: quanto maior for o tamanho do seu equipamento, mais linha caberá dentro dele, sendo esse detalhe muito importante, já que na praia dificilmente iremos encontrar enroscos e, portanto teremos o “Oceano Atlântico inteiro” para uma boa briga com os peixes.

Praia rasa no Rio Grande do Sul – Farol da Solidão                                                     
                                                 LIDER E  CHICOTE
Esse item varia um pouco em cada uma das três barras, já que obrigatoriamente deveremos usar rotores proporcionais ao peso das chumbadas, iscas e anzóis. No chicote a mudança quase não existe e o ideal é usar uma linha 0.60mm, já que essa bitola dará facilmente um arranque (na hora do arremesso) para chumbadas de até 160 gramas, lembrando sempre que o tamanho desse chicote deve ser o dobro e até o triplo do tamanho da vara e ser amarrado na linha principal com o chamado “nó de correr”. As pernadas, ou seja, a linha que vai do anzol até o rotor, deve ser de bitola entre 0.35 a 0.45mm. O diâmetro só é importante nesse item devido ao tamanho dos anzóis, pois fica muito difícil amarrar uma linha grossa em um anzol pequeno, principalmente se ele for do tipo chapinha. O comprimento da pernada o pescador escolhe à vontade, levando sempre em conta que elas não devem enroscar entre si. Para encerrar, diremos que a incidência de peixes será sempre maior na praia rasa, já que nesse tipo de praia haverá mais alimentação natural, coisa que não encontraremos as praias de tombo. Boa pescaria... e no lugar certo. NR: Atualmente usamos como chicote uma linha de nylon especial denominada de linha Fluorcarbono, mais resistente, cuja bitola, dependendo do pescador, varia entre 0.35 à 050mm, com comprimento entre de 1 a 1,5m onde ficarão então os rotores, girador e engates para a chumbada. 

Revista Aruanã Ed:59 Publicada em 10/1997