sábado, 27 de junho de 2020

ESPECIAL - O ESPORTIVO APAPÁ.











Para um pescador amador, a esportividade de um peixe é traduzida na luta que este peixe proporciona. O que dizer então de um peixe que fisga muito bem em iscas artificiais de superfície e, quando ferrado, além de brigar muito, dá saltos espetaculares tentando livrar-se do anzol? Apresentamos então o apapá. Conheça-o.


Cores do apapá
O nome científico do apapá é Pellona castelneana, e pertence à família dos Clupeidae. Até aí, nada demais, a não ser que essa mesma família pertence também a sardinha, além da savelha e outros mais. Os cientistas inclusive afirmam que o apapá é um peixe originalmente de água salgada que teria se aclimatado em água doce, mas essa tese não tem confirmação oficial. Inclusive em alguns trabalhos chamam-no de “sardinha de água doce”. Outros trabalhos científicos informam que a carne do apapá não é apreciada, pois é de sabor adocicado e tem muitas espinhas. Desta afirmação nós discordamos totalmente, já que em recente pescaria, e tendo essa afirmação em contrário, fizemos questão de provar a carne do apapá, o que nos dá condições de afirmar que a mesma é de excelente sabor, sendo este muito parecido com o da carne de anchova. 

Apapá fisgado com isca de superfície
Além disso, o numero de espinhas encontrado é igual ao de qualquer outro peixe de seu porte e padrão. Mas é sobre a pescaria do apapá que queremos falar. Há muito nos intrigava uma reportagem de José Veríssimo, onde ele textualmente diz: na pesca do apapá, o índio usa anzóis cobertos com plumas encarnadas, portanto do tipo das “moscas” dos pescadores europeus. A tal método chamam de “pindá-sirica”. Com base nessa informação, de imediato pensamos em pescar o apapá com iscas artificiais. Sem conhecer o peixe pessoalmente, restou-nos usar várias iscas para chegar à conclusão de qual seria a melhor para este tipo de pesca. Descobrimos então que as melhores iscas para a pesca do apapá são as iscas de superfície, sem barbelas e que façam evoluções sobre a superfície da água. 

Bonito e bom de briga
Os melhores pesqueiros para o apapá são os remansos de rios, mais precisamente na entrada de baías ou então nas próprias margens do rio onde haja remansos. Uma outra dica muito boa é que quando esses peixes estão caçando, é muito fácil detectar sua presença, pois os pequenos peixes, objetos da caça, fogem desesperadamente, aos bandos e sobre as águas, dos ataques fulminantes do apapá. Estando em um local desses, é só jogar sua isca de superfície e, trabalhando-a com perfeição, esperar o ataque do apapá. A melhor maneira de pesca-los é embarcado e com o auxilio de remos ou motor elétrico. Colocamos o barco a uma distância que pode variar entre 10 e 20 metros para os arremessos, que devem ser precisos, para que a isca artificial fique bem próxima aos obstáculos, aguapés ou margens. 

Entradas de baías: pesqueiros de apapás (rio Guaporé)
O ataque do apapá à isca é calmo e nem sempre muito preciso. É costume seu vir por baixo da isca e ficar fazendo evoluções, o que demonstra sua presença, pois a água em redor da isca de superfície fica revolta. O segredo nessa hora é não parar de trabalhar a isca, pois ele está nas imediações e com certeza voltará a atacar, podendo tal ato acontecer, às vezes, até bem perto do barco. Em se fisgando o apapá, será necessário se dar uma ou duas “confirmadas”, traduzidas em forte puxão na vara de pesca, para que os anzóis da isca possam fisgar direito. Fisgando um apapá, desfrute então de uma boa briga, alternada com saltos espetaculares do peixe para fora da água e importante: esses saltos são sempre para os lados, diferente dos peixes que saltam para cima, como é o caso dos tucunarés, dourados, etc. 

O ataque à isca artificial
Na briga com o apapá é muito comum perder-se o peixe nesses saltos, daí a dica para as duas “confirmadas”. Um bom material para a pesca desse peixe pode ser classificado na categoria leve, bastando que a vara de pesca seja de ponta firme, do tipo grafite. Uma boa linha e que garante o peixe é a de bitola 0.35mm. Não é necessário usar-se lideres de linhas mais fortes ou de aço, bastando apenas que a isca esteja equipada com um snap (alfinete). Para terminar, algumas curiosidades sobre o apapá. Na região do Guaporé, chamam-no erroneamente de “peixe-novo” ou “peixe-banana”. Sua presença é garantida em praticamente todos os rios da Bacia Amazônica, com destaque especial para o rio Guaporé e rio Araguaia. Conforme a região do Brasil, ele também é conhecido pelos seguintes nomes: arenga, arenque, bode, sardinha branca, sardinhão e cagona. Este ultimo, muito usado, deve-se ao fato de que, quando fisgado e retirado da água, o apapá expele fezes pelo ânus.

Iscas de superfície para o apapá: 1- Mirrolure; 2 – Jumping Mullet; 3 – Crazy Shad;  4 -Baby Zara; 5 – Bill Norman. 
NOTA DA REDAÇÃO: Aqui nesta postagem, cabe bem o ditado “vivendo e aprendendo”. Digo isto porque, as dicas aqui citadas, sem duvida, foram as mais exatas e melhores para a pesca do apapá no rio Guaporé. Quando fizemos uma matéria para a Aruanã, no rio Machado, onde as águas, devido a muitas corredeiras e tombos, eram muito rápidas, a isca que melhor se adaptou para essas condições, foram as de barbelas meia água, e conforme a posição do pescador em referência a linha da água, nem era preciso trabalha-la, pois a correnteza fazia isso para nós. Vez por outra, para não ficar sem ação, recolhíamos ou dávamos um pouco de linha. E a propósito, foram os maiores apapás que vimos, já que beiravam 6 quilos.

Revista Aruanã Ed:21 Publicada em 04/1991

sábado, 20 de junho de 2020

TEMPO: O VENTO NA PESCARIA.










O vento, dependendo de sua intensidade, atrapalha e muito a pescaria, seja no mar ou água doce. Vamos abordar este assunto e tentar esclarecer essa questão.


Em alto mar, as ondas prejudicam a navegação
Nós até que poderíamos fazer um assunto técnico, onde apareceriam expressões como Coriolis (ação defletora), Buys-Ballot (leis da tempestade, anti-ciclônico, ciclônico, pré-frontal, frente fria, altoestratos, cumulonimbus, etc. Isso, com certeza, não vai ser preciso ainda mais porque já publicamos (Revista Aruanã edições 3 e 8) um artigo completo sobre esse assunto, assinado pelo Prof. Rubens Junqueira Villela. No blog publicado em junho de 2015. Vamos procurar então, falar sobre os ventos, suas causas e efeitos na pescaria, e tentar apontar algumas soluções para minimizar esses problemas. 
                                                     PESCARIAS NO MAR
As pescarias feitas em praias e costões costumam ser muito prejudicadas pela ação dos ventos, que normalmente sopram no nordeste para sudeste, ou seja, em nosso litoral, da esquerda para a direita. São ventos que têm intensidade de velocidade entre 5 a 10 quilômetros por hora. No caso de aproximação de frentes frias, esses ventos podem mudar a direção e ganham maior intensidade. Atrapalham o pescador, principalmente pela formação de “barriga” na linha e pelo constante balançar da ponta da vara de pesca. Diminuir a barriga da linha pode ser conseguido usando-se linhas de monofilamento, de bitolas bem finas, como por exemplo 0,20 a 0,30 milímetros. 

Um dia de mar sem ventos 
Outra providência a ser tomada é tentar fazer com que a ponta da vara de pesca fique mais baixa, portanto sem a menor ação do vento sobre ela. Em alto mar, o problema de ventos é que os mesmos foram ondas, às vezes enormes, prejudicando a navegação e não a pescaria. Em rios e canais do litoral, os ventos atrapalham nos arremessos, no apoitar o barco e, dependendo da largura dos rios e canais, as ondas que se formam atrapalham a navegação. Outro problema de ventos em canais são as folhas que se soltam das árvores do mangue e ficam boiando na superfície das águas. No último caso, quem pesca com iscas artificiais será prejudicado. A solução para pescar em rios e canais quando houver vento é procurar locais de pesca menos expostos ao vento, que normalmente localizam-se em curvas acentuadas dos rios, ficando protegidos pelas árvores ou morros.
                                                  REPRESAS E RIOS DE ÁGUA DOCE
Nas represas, os maiores problemas com os ventos referem-se à navegação, já que se formam ondas de um metro ou mais, e isso é um problema sério no que se toca a segurança da embarcação, normalmente barcos pequenos. Contra essa ação não há solução, a não ser que o pescador levante bem cedo e tente chegar no seu pesqueiro preferido o mais rápido possível, já que os ventos na represa aumentam mais com a ação do sol e calor. 

Formação de nuvens 
Na pescaria, se o vento ficar mais intenso, a solução será pescar nas grotas e entradas, muito comuns nas represas. O vento atrapalha mais a pescaria quando se quer usar iscas artificiais de superfície. Com iscas de meia água ou iscas vivas, a interferência do vento será menor. Nos rios, devemos evitar os chamados “estirões”, que são aquelas retas onde o vento “encana”, provocando ondas. Curvas e locais protegidos do vento serão mais produtivos.
                                                     VENTOS FORTES
Normalmente, com um pouco de observação podemos prever quando irá ventar forte. Se houver no horizonte a formação de nuvens (cumulonimbos) pesadas, lembrando a forma de uma bigorna, com cores escuras e ameaçadoras, ou ainda relâmpagos e trovões, é um sinal de que, se o vento estiver na direção do pescador, vai ventar forte, e o que é pior, irá chover pesado. Nesse caso é bom procurar abrigo, já que tais ventos e chuvas, muito comuns na primavera e verão, costumam ser passageiras. Se não houver abrigo por perto, coloque uma boa capa de chuva, saia de perto do barco e fique e fique em local descampado, sentado ou deitado até a chuva passar. Em hipótese alguma vá se abrigar perto de árvores, pois tais locais costumam atrair raios. Se for na praia e costão, saia de perto das varas e tente se abrigar nas pedras do costão ou nas praias, ficando na faixa de areia entre o mar e o fim da praia, também sentado ou deitado na areia. Boa pescaria.

Revista Aruanã Ed:66 Publicada em 12/1998

quinta-feira, 11 de junho de 2020

DICA - BASS: FICOU MAIS FÁCIL







Apesar de ser um peixe predador, a pesca do black bass tem suas manhas e segredos. Com as mais recentes novidades em equipamentos, sua pesca ficou muito mais fácil. Confira e comprove.


Bass na minhoca artificial 
A história do black bass no Brasil já data mais de 75 anos (NR: atualizando o tempo – 97 anos), visto que os primeiros peixes vindos dos Estados Unidos e do Canadá aqui chegaram por volta do ano de 1922. Só para esclarecer, e a bem da verdade, essa espécie foi introduzida em nosso país porque as autoridades de meio ambiente começavam a se preocupar pela proliferação das piranhas em nossos reservatórios hidrelétricos. Sendo o black bass um predador, acharam eles que facilmente combateria as piranhas. Foi no estado de São Paulo a primeira introdução, e mais tarde em outros estados tais como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Como se vê, a opção foi feita pelos estados de clima mais frios, pois erradamente se pensou que, sendo o Bass originalmente de regiões mais frias, sua aclimatação seria melhor nessas áreas. Esse pensamento foi outro erro, pois o Bass já estava, nos Estados Unidos, aclimatado em estados como a Flórida e a Califórnia, de clima muito parecido com o nosso. Aliás, nesses estados americanos mais quentes o bass atinge tamanho maiores, chegando mesmo a atingir recordes por volta de 9 ou 10 quilos, enquanto nos estados mais frios ele pouco passa de 4 quilos, aliás, a exemplo do Brasil, onde os maiores exemplares já fisgados estão bem abaixo dos 4 quilos. 

Bom local para pesca 
Um outro ponto a esclarecer é que algumas pessoas aqui no Brasil afirmam que o bass da Flórida é de espécie diferente, chamando-o inclusive de Floridanus. Em recente viagem aos Estados Unidos, conversando com alguns biólogos experientes, afirmaram eles categoricamente ser a mesma espécie de peixe, ou seja, Micropterus salmoides. Isso inclusive faz lembrar o caso do nosso tucunaré, que na Amazônia chega a 12 quilos e em outras regiões do Brasil, como o estado de São Paulo, dificilmente ultrapassa os 5 quilos. Mas vamos deixar essa discussão de lado e nos ater ao assunto principal desta matéria, em cujo título dizemos que ficou mais fácil pescar o bass. Pois bem, o bass pega em iscas vivas ou artificiais, sendo que estas últimas são as mais esportivas. Nas artificiais, vamos encontrar alguns tipos tais como plugs de meia água, fundo e superfície, além de colheres, spiners, jigs e minhocas. Em nossa opinião e pela nossa experiência, podemos afirmar sem qualquer sombra de dúvida serem as minhocas as mais produtivas. Só que existem alguns problemas quanto ao uso das minhocas, pois as mesmas são difíceis de serem utilizadas, tal é a sensibilidade que o pescador terá que ter para sentir, no fundo, o que é um ataque desse peixe a essa isca. 

“As novidades” 
Quando não se tem prática, qualquer batida, por exemplo, de paus ou pedras submersas, parecerá ao pescador menos experiente uma batida do peixe. E às vezes a batida do peixe, traduzida em dois leves toques, parecerá ser enrosco e não se dará a fisgada, perdendo-se então o peixe. Vamos tentar explicar: normalmente, pesca-se com a minhoca no fundo e, dando-se pequenos toques, fazemos com que a isca venha dando pequenos saltos no fundo da represa. Ao passar por galhadas submersas, o chumbo ou a isca baterá nos galhos dessas árvores, dando o falso sinal de peixe. É interessante observar um pescador menos experiente, pois, após violenta fisgada (com a minhoca é assim, violenta) ele fica com aquela cara de quem perdeu o peixe; no fundo, ele não teve a certeza de que era peixe, e isso irá causar um certo descontentamento, e quando for peixe, ele não fisgará, com medo do ridículo. Tudo isso é bobagem, e sempre dizemos que o seguinte: em caso de dúvida, fisgue, porque se for peixe ele não vai dar tempo para indecisão. Se for galho, com certeza não se fisgará nada. Pois bem, pescar com minhocas era assim. Atente o leitor para o tempo do verbo...era assim.

O novo equipamento para o bass 
Nessa viagem aos Estados Unidos, em Spirit Lake no estado de Yowa, mais precisamente numa visita à OTG, fabricante da marca Berkley, entre outras, ficamos conhecendo um novo produto específico para a pesca do bass, afirmando os fabricantes ser a maior novidade para a pesca dessa espécie de peixe. A princípio tivemos dúvidas da eficiência desses novos produtos, pois nos parecia ser impossível. Mas trouxemos para o Brasil o conjunto completo para fazer alguns testes aqui em nossas represas. Esse conjunto foi composto principalmente por três novidades: a vara Pulse, a linha Fireline e as minhocas Power Bait, sendo que os anzóis e os chumbos foram os modelos tradicionais. Após três pescarias, podemos afirmar que realmente ficou muito mais fácil sentir o bass nesse tipo de pescaria. Nessa vara, tanto para carretilha como para molinete, a diferença é que na sua empunhadura os dedos da mão ficam diretamente na haste, dando ao pescador maior sensibilidade. A linha é de uma fibra exclusiva da Berkley, parecendo de não ser uma linha de multifilamento com elasticidade zero, o que da maior sensibilidade em qualquer toque, e o melhor de tudo é que a Fireline não é abrasiva. E finalmente, a minhoca: segundo o fabricante, o bass, com a minhoca comum, fica com a isca na boca por volta de um ou dois segundos; com a Power bait, o bass chega a ficar até 18 segundos com essa minhoca na boca. 

“A linha”
Essa diferença se dá, ainda segundo o fabricante, porque essa nova minhoca vem impregnada com uma essência altamente agradável ao black bass, que é injetada na minhoca na hora da fabricação. Pois bem. Mais uma vez a bem da verdade, podemos afirmar que ficou muito mais fácil sentir o Bass com esse material. Realmente, nessas minhocas a “pegada” do Bass é diferente, já que, em vez das duas batidinhas, o peixe chega a bater cinco ou seis vezes e até a carregar a minhoca, ficando muito mais fácil senti-lo. Por outro lado, a prova maior de que esse conjunto é diferente, foi que levamos nessas pescarias-testes um pescador que nunca havia fisgado bass em minhoca artificial, e ao fim da primeira pescaria, esse pescador, novato nessa modalidade, conseguiu fisgar dois black bass, coisa que há mais e dois anos estava tentando, já quase tendo desistido de pescar com minhocas artificiais. Como informação final, os produtos Berkley aqui citados são importados legalmente pela Mustad do Brasil, com sede em Porto Alegre, telefone (051)3743122 e fax (051) 374-2991 (esses números devem ser confirmados). Na rede de lojas especializadas em artigos de pesca já se encontram esses produtos. Caso não os encontre em sua loja preferida, ligue para a Mustad. Vivendo e aprendendo...
  

Bass na power bait 
NOTA DA REDAÇÃO: Por ocasião da publicação desta matéria, achamos melhor – para não parecer ostentação – omitirmos detalhes que agora achamos conveniente contar. Eu estava em companhia Alexandre Mussi Fortes, diretor da Mustad no Brasil. Quando nos falaram sobre a nova minhoca, devemos ter feito cara de que não estávamos convencidos. Daí a nos mostrar foi fácil então como veremos. A Berkley tem em suas instalações diversos black bass em criação própria. Esses bass ficam em compartimentos separados, mas, com acesso a um tanque maior, onde são realizados testes, com novas iscas. Na parte de cima dessa secção, há uma “raia” de uns 15 metros por dois de largura, usada para arremessos de precisão. Em um canto dessa sala que é ampla, há uma escada em caracol que nos leva a um subsolo, com uma enorme parede de acrílico, onde em uma tela de aproximadamente cinco por dez metros de comprimento, com todas as características de um aquário completo, com iluminação própria somente em seu interior. 

Linha da fabricação das Power Bait na Berkley 
Foram soltos nesse aquário, cerca de 10 black bass. Sentamos em poltronas e por intermédio de um telefone, foi dado ao um funcionário que desse lances – na parte de cima – com as minhocas tradicionais e trabalhasse as iscas normalmente como se fosse em uma pescaria. Com a caída da minhoca na água, vários bass abocanharam a minhoca e passado dois ou três segundos a cuspiam. Isso foi feito com vários peixes e sempre com o mesmo resultado. Dada a ordem ao funcionário que mudasse a isca para a Power Bait. Pois bem, quando a isca chegava ao fundo, imediatamente um bass abocanhou essa isca e ficou com ela na boca, cerca de 12 segundos, cronometrados. E pior, quando ele a cuspia, imediatamente outro a pegava e a repetição de se dava exatamente igual. Rindo, cumprimentei ao Tom Bedel. Presidente da OTG, pelo sucesso dessa nova minhoca. Em nossa bagagem, - na volta ao Brasil - duas varas Pulse, alguns carretéis de linha Fireline, e dezenas de minhocas de várias cores, formatos e tamanho. Essa foi a razão de publicarmos este artigo, com o título de Bass: ficou mais fácil.
Revista Aruanã Ed: 64 Publicada em 08/1998


quarta-feira, 3 de junho de 2020

DICA - AFIANDO OS ANZÓIS








É um costume bastante antigo, onde certos pescadores tem como mania, afiar seus anzóis. Segundo eles, a fisgada é melhor e muito mais segura. Será isto verdade? Confira.


A tralha de pesca 
Esta matéria tem como objetivo, aguçar o raciocínio dos pescadores amadores, no que se refere a um dos itens mais importantes da nossa tralha de pescaria: os anzóis. Vamos imaginar então, um pescador preparando sua tralha para a pescaria sensacional que ele irá fazer dentro em breve, talvez no Pantanal ou na Bacia Amazônica, ou ainda no mar. Verificar tudo é questão de garantir o sucesso dessa pescaria. Varas, linhas, molinetes ou carretilhas, chumbadas, bicheiros, roupas, medicamentos, bonés, encastoados e... os anzóis. Não se sabe de onde, mas é uma mania que muitos possuem de passar o dedo na ponta do anzol, ou ainda, “para testar” essa ponta, acham que o anzol deve parar em cima da unha do dedão da mão, já que só assim sabe-se se o anzol está afiado ou não. Pior que isso, é quando o nosso pescador cisma de que o anzol não está afiado e resolve então “melhorar sua ponta”. O que se segue então é um amontoado de procedimentos, onde o que se vai conseguir no final, é piorar esse anzol, no que ele tem de mais importante, a ponta. Vamos começar então, pelo pescador que prende o anzol em uma morsa, com a ponta para cima e com uma lima de ferro, começa a limar as duas laterais do anzol, para fazer a ponta ficar mais fina. Outros usam lixas de ferro e envolvem toda a ponta do anzol. Existem ainda os que mais apressados, passam o anzol em um esmeril, a alta velocidade, sem saber que com esse procedimento estão inutilizando a têmpera do aço, que é o sinônimo de segurança do anzol. 

Afiando o anzol preso em uma morsa com o auxílio de uma lima. 
Se fosse só isso até que dá para consertar ou pelo menos aconselhar e mostrar onde estão os erros. Mas não, existem outras coisas que até Deus duvida. Querem um exemplo? Em uma de nossas viagens ao Pantanal, vimos na mão de um piloteiro um anzol de cor preta e seu formato era igual ao anzol específico para a pesca do Black-bass com minhoca artificial.  Ao perguntarmos de onde ele tinha tirado aquele anzol, veio a resposta: é um anzol “fabricado” por um pescador profissional de Mato Grosso, e é o melhor anzol que tem para pescar aqui no Pantanal. Quisemos saber mais e, soubemos. O tal “fabricante de anzóis” tem como matéria prima as molas de colchões velhos, que são colocados no fogo, para se ter a forma final do anzol e depois são esquentados novamente e usam para temperar, a banha de capivara, ou ainda a banha de pacu, que segundo eles é o que dá melhor têmpera. A farpa desse anzol é conseguida com uma “ferramenta” cortante que após entrar no corpo do aço, é virada para cima, e essa parte que virou para cima é a farpa. Muito bem, para não perder muito tempo, vamos dizer que essa é mais uma das grandes bobagens que temos visto na pescaria. Mola de colchão virar anzol é demais e pior ainda é a banha de capivara ou de pacu, ser o óleo da têmpera. Se a moda pega, vão faltar capivaras no pantanal e nenhum pescador vai jogar seu colchão velho, já que todo mundo dorme em colchão o que não garantimos na parte referente a capivara. 

Anzóis feitos com mola de colchão 
Ou será que anta, paca, queixada, caititu também serve, em substituição a banha de capivaras? E tem gente que vai ao pantanal pescar e compra tais anzóis, principalmente na região de Cuiabá. Vamos voltar a seriedade do assunto. Nós da Aruanã, tivemos oportunidade de visitar várias fábricas de anzóis em todo o mundo e ver seu processo de fabricação, desde o aço bruto, até o anzol ser colocado nas caixas para a venda. Vamos citar o exemplo da Mustad, que fabrica anzóis “só a mais de 120 anos”. Sobre isso, muito teríamos que falar, mas com certeza interessa mais dizer que, as máquinas dessa fábrica, são de sua própria autoria, e a têmpera do aço é um segredo guardado a sete chaves. Após o anzol adquirir sua forma definitiva, ele é então temperado e seguem-se então vários banhos químicos, o que vai assegurar a sua ponta, resistência e durabilidade. São várias etapas na fabricação de um anzol que tanto pode ser o popular “anzol mosquito” como os grandes anzóis. Tudo é altamente estudado e desenvolvido para a segurança do anzol. Um anzol , quando sai de uma fábrica séria, não precisa passar por nenhuma melhoria e ainda mais, nas mãos de quem não entende nada de metalurgia, ou de têmpera, ou de aço, etc. O erro principal está sim em se guardar anzóis usados, sem nenhum cuidado em sua manutenção e querer que o mesmo tenha sempre a mesma qualidade. 

Afiando anzol em um esmeril 
E o mais engraçado é que se tem essa preocupação apenas com os anzóis “para os peixes grandes”, já que esses peixes “precisam” ser muito bem ferrados e a afiação da ponta se faz necessário. Eu nunca vi, por exemplo, afiando anzol para pescar lambari. Ou será que o lambari não merece essa atenção? A bem da verdade, existem alguns tipo de anzóis, que tem sua ponta cônica, ou seja redonda e parecem que são mais afiados que os outros. Ledo engano, já que por experiência podemos dizer que se esses anzóis são mais afiados, com certeza sua ponta perderá muito mais rápido essa afiação, devido a um desgaste mais rápido também. O importante em um anzol é, principalmente, saber de sua origem, usá-lo corretamente, e se fomos guardá-lo que se tomem as medidas necessárias para sua conservação e finalmente, caso ele tenha tido uma vida longa de belas ferradas e brigas sensacionais com os peixes, aposentá-lo, já que ele fez sua parte e merece esse descanso, Pode até ser pior, onde o sentimentalismo não entra: jogá-lo simplesmente no lixo. Afinal de contas, pelo que o anzol é importante em uma pescaria, pode-se afirmar que é entre todos os itens dessa pescaria, o mais barato. Vale a pena ficar inventando coisas banais como afiar um anzol? Boa pescaria e vamos deixar as capivaras em paz, que a bem da verdade não servem nem para comer, já que sua carne tem um gosto estranho. Quanto aos colchões, faça deles o que quiser, já que nos deram muito prazer (dependendo de cada um) por vários anos. Faz até nos lembrar daquela estrofe de música que diz: “sic - guenta colchão velho”. Quanto a colchão de molas virar anzol é, no mínimo, desrespeito...ao colchão e a inteligência do pescador.

Revista Aruanã Ed:70 Publicada em 08/1999