sábado, 25 de julho de 2020

DICA - A BITOLA DA LINHA



Foto Kenji Honda




Falar sobre linhas de monofilamento, na maioria das vezes, gera muita polêmica por se confundir diâmetro com peso. A seguir, vamos discutir este assunto e tentar esclarece-lo em seus detalhes.

Linha bitola 0.35mm
Para se escolher a linha de monofilamento certa podemos citar uma regra onde existem várias exceções. Comecemos pelo equipamento, já que vamos escolher a bitola de linha de acordo com o tamanho da carretilha ou do molinete. Um exemplo? Em hipótese alguma podemos colocar uma linha de bitola grossa em um equipamento pequeno, já que o que ganhamos na resistência, perdemos no comprimento e, às vezes, mais linha no equipamento é um fato mais importante do que a resistência da mesma. 

Linha bitola 0.20mm




Além do mais, fica completamente errado usar-se em um equipamento leve uma linha pesada. E no caso de um equipamento grande, considerado de médio a pesado? A resposta se divide em duas partes. Em primeiro lugar, se usarmos um equipamento grande com uma linha pesada, a pescaria que praticarmos tem que ser obrigatoriamente pesada, tipo jaú, marlin, garoupa, etc. Linha fina em equipamento pesado só é usada em dois casos: pesca de praia ou costão. 

 Linha bitola 0.40mm  
A justificativa para isso é bem simples, já que nessas duas modalidades vamos necessitar sempre de uma boa quantidade de linha, tendo em vista os longos arremessos, e também porque uma linha fina sofre menos pressão de ondas e correnteza, fato muito comum em praias e costões. Um outro exemplo bem ilustrativo pode ser tirado de uma conversa entre dois pescadores, um de robalo e outro de marlin.  Na hora em que o pescador de robalos disser que usa uma linha 0.40 milímetros, o pescador de marlin vai tirar um sarro do robaleiro, perguntando se ele vai guinchar o peixe, já que ele usa uma linha praticamente igual. 


Linhas de pesca 
Aí surge a polêmica: quem tem razão? Vamos explicar. O pescador de marlin pode usar uma carretilha grande com uma linha mais fina, já que ele na briga com qualquer peixe oceânico tem praticamente “o Oceano Atlântico inteiro” para brigar com o peixe. Enquanto isso, o pescador de robalo tem apenas alguns metros para brigar com um peixe muito menor, pois essa espécie, assim que fisgada, inevitavelmente procura uma galhada para se livrar do anzol. Se o pescador não usar uma linha forte, dificilmente segura o peixe nessa busca da galhada. 


Linha bitola 0.30mm 
Estes são apenas alguns exemplos que podemos citar, e é evidente que o leitor poderá enumerar vários outros.  Somos de opinião que esse problema deve ser resolvido tendo em vista o balanceamento do material que estivermos usando. Ora, se estamos com uma vara leve e equipamento leve, a linha obrigatoriamente deverá ser fina. Ou leve, se preferirem. Assim devemos proceder no caso dos equipamentos médio e pesado, com exceção do já citado exemplo de praia e costão. No entanto, uma prática que esta se tornando bastante comum é o pescador procurar pescar espécies maiores em peso do que a resistência do seu equipamento. 


Linha bitola 0.23mm na praia 
Só que isso tem outro nome: esportividade. Para esse tipo de pescador o mais importante não é trazer o peixe, mas sim brigar com ele o maior tempo possível. Na edição anterior da Aruanã tratamos desse assunto em uma matéria onde afirmamos pescar dourados com uma linha 0.30 ou 0.35 milímetros, sob o título “Esportividade no Limite” (NR: publicada no blog em dezembro de 2017) E mais uma vez provamos essa teoria no recente roteiro em Cáceres, onde fisgamos dourados de aproximadamente 7 quilos com uma linha 0.35 milímetros, não perdendo um peixe sequer. 


Linha bitola 0.45mm



(NR: Publicada no blog em setembro/2014 Roteiro Pantanal Norte Cáceres) É verdade que dá muito mais trabalho, pois há a necessidade de se soltar o barco na correnteza e não se pode fisgar com força, mas ao fim da briga tudo compensa, já que o peixe nos deu toda a esportividade que estávamos procurando. Além do mais, se vamos mesmo soltar o peixe após essa briga, valeu tanto esforço. O certo, portanto, é balancear o equipamento com a linha e jamais confundir bitola com peso. Diâmetro é uma coisa e libras (peso) é outra. Boa pescaria.


Revista Aruanã Ed:58 Publicado em 08/1977

quinta-feira, 16 de julho de 2020

ATUALIDADE: ACIDENTE OFÍDICO: O DIA SEGUINTE







Jararaca


No Brasil ocorrem atualmente cerca de 20 mil acidentes com serpentes peçonhentas por ano (12/1993). Em suas incursões à beira d’água o pescador deve estar atento e bem informado, já que a prevenção sempre é o melhor remédio. Mas o que fazer após a picada?
Fotos Instituto Butantan – São Paulo - SP  
                                                                    Fotos  Kenji Honda/Arquivo Aruanã.


Jararaca 
A imensa maioria dos acidentes ofídicos ocorre com as serpentes do gênero Bothrops, que é composto por mais de 30 variedades de cobras: as populares jararacas. Conhecida também como caiçaca, jararacuçu, cotiara, cruzeira, urutu, jararaca-do-rabo-branco, surucucurana, etc., a jararaca é responsável por 88% dos acidentes registrados em todo o país, contra 9% causados por cascavéis e apenas 3% causados por surucucus e corais verdadeiras. Vamos nos ater aqui principalmente às jararacas, já que sua distribuição geográfica abrange todo o território nacional e seus habitats e locais de incidência (são encontradas principalmente em beira de rios, dentro d’água, penduradas em árvores ou enterradas) muitas vezes recebem a visita dos pescadores amadores. As serpentes do gênero Brothrops apresentam cores e desenhos diferentes pelo corpo, indo do verde ao negro. Seu tamanho pode variar, quando adultas. Entre 40 cm e 2 m de comprimento. É útil ter conhecimento de algumas regras simples que permitem fazer a diferenciação entre cobras peçonhentas (venenosas) e não peçonhentas. Se a cobra apresenta anéis coloridos em qualquer combinação de cores, é possível que se trate de uma coral verdadeira, que deve ser considerada como venenosa. 

Paciente após quatro dias de internação no Hospital Vital Brasil, tendo buscado socorro após  decorridas mais de 8 horas do momento do acidente. A picada provavelmente foi dada por uma jararaca adulta. Nota-se alguns pontos necrosados no pé, porém o edema local já começa a regredir. Segundo a Drª Hui, este é um caso de moderada gravidade. 
À exceção da coral, as serpentes peçonhentas invariavelmente apresentam fosseta loreal, ou seja, um pequeno buraco entre o olho e a narina em cada lado da cabeça, que serve para que percebam as modificações de temperatura à sua frente, permitindo que possam se movimentar e caçar à noite, por exemplo. Se a cobra tiver um chocalho na ponta do rabo, sem dúvida é uma cascavel. Se o rabo tem escamas arrepiadas e ponta de osso, trata-se de uma surucucu-pico-de-jaca. Já uma cauda sem detalhes importantes é característica das jararacas. Segundo a DrªFan Hui Wen, médica infectologista que ocupa a chefia interina do Hospital Vital Brazil no Instituto Butantan, em São Paulo (SP), na primeira meia hora após a picada da jararaca, já é visível o edema (inchaço) que começa a se formar no local atingido. “O inchaço aumenta progressivamente e podem ocorrer dores. Devido à ação do veneno, na região da picada aparecem manchas arroxeadas, caracterizando as equimoses, que são sangramentos subcutâneos com aspecto semelhante ao de hematomas comuns”. 

O local arroxeado na parte superior da perna mostra uma região onde houve absorção do veneno, caracterizando uma equimose. Foram administradas 8 ampolas de soro neste caso. Caso mais leves podem ser resolvidos com a aplicação de 4 ampolas, mas os caos mais graves necessitam de até 12 ampolas de soro. 
O envenenamento local instala-se nas primeiras horas após o acidente, podendo evoluir para o envenenamento sistêmico, ou seja: a circulação sanguínea absorve o veneno inoculado e passam a ocorrer eventuais sangramentos em outras regiões do corpo. “É comum a ocorrência de hemorragias na gengiva. Além disso, se a pessoa acidentada tiver tomado alguma injeção recentemente, o local onde a agulha penetrou poderá começar a sangrar. Sangramentos mais graves, como por exemplo, uma hemorragia no aparelho digestivo são mais difíceis de ocorrer. É mais comum o sangramento de cor viva na urina. Se o acidentado sofrer algum tipo de traumatismo na cabeça após a picada, isto pode ocasionar um sangramento intracraniano, que pode levar ao “óbito”, observa a Drª Hui. Em geral, não há perda de consciência, mas a circulação sanguínea altera-se muito em relação às sua condições normais. O veneno inoculado pode acarretar distúrbios de coagulação: o sangue fica incoagulável, dificultando o estancamento de hemorragias. Óbitos ocorrem tardiamente, ainda assim somente nos casos em que há complicações posteriores. 


A não observação da imobilidade que é recomendável ao acidentado e a demora na busca de socorro favorecem um maior e mais rápido alastramento do veneno no organismo. O ideal é começar o tratamento dentro das primeiras três horas após a picada, sendo que, passadas seis horas, a peçonha já terá se fixado aos órgãos-alvo, desencadeando assim o processo de lesão tecidual. A Drª Hui explica: Aqui ocorre uma espécie de ‘efeito dominó’, pois mesmo tendo sido neutralizado o veneno através da aplicação do soro, o processo já foi desencadeado. Não adianta erguer a primeira pedrinha do dominó: o impulso já foi dado e as outras fatalmente cairão. É necessário então ir observando as reações do organismo para determinar a extensão do problema. Dependendo da região atingida, podem ocorrer necroses, que exigem alguns dias até que possamos precisar seguramente quais são as áreas realmente lesadas. Ao contrário da panturrilha, os dedos, por exemplo, têm uma característica muito menor de se expandir e suportar o inchaço, o que acaba favorecendo o rápido aparecimento e evolução das gangrenas, devido ao sofrimento dos vasos sanguíneos e morte dos tecidos do local.” 





.Caso socorrido 3 horas após a picada. A área atingida já manifesta o edema e o arroxeamento característicos. 
Outras complicações frequentes ocorrem em casos onde foi grande a quantidade de veneno inoculada, além dos casos em que os procedimentos de socorro foram inadequados, piorando as condições iniciais da vítima. Segundo esclareceu a médica, “a serpente pica e solta rapidamente. Se ela conseguir dar um golpe bem dado, com as duas presas, se for uma cobra adulta ou se não se tiver alimentado recentemente (após uma refeição, a produção e a quantidade de veneno, diminuem), a quantidade da substância venenosa inoculada será maior, e quanto mais veneno, menor é o tempo que deve ser observado para o socorro a fim de evitar as complicações. Procedimentos como garrotes (torniquetes) não devem ser adotados, já que, se por um lado podem teoricamente impedir eu o veneno inoculado se espalhe através da circulação para todo o organismo, por outro lado favorecem uma maior concentração da peçonha na área atingida, o que pode compromete-la seriamente, acelerando o agravamento das lesões locais e em casos raros ocasionando uma eventual perda do membro atingido através da necessidade de amputação. 

Caso socorrido no terceiro dia após a picada. O paciente havia feito garrote. A região atingida mostra-se tomada por necrose irreversível. Foi necessária a amputação. 
A sucção no local da picada é totalmente ineficiente, pois a inoculação do veneno através das presas da serpente assemelha-se à aplicação de uma injeção subcutânea ou intramuscular, ou seja, não adianta “chupar” a região atingida, já que não há como fazer a substância introduzida sair do organismo. O mesmo pode ser dito a respeito de cortes e perfurações com a finalidade de provocar sangramentos que teoricamente fariam com que o veneno “saísse” junto com o sangue. É sempre necessário tomar o soro, que é aplicado por via endovenosa na quantidade suficiente para cada caso, a critério médico.
                                                        SEQUELAS
Há pessoas que se queixam de dores de cabeça, enjôos e outros males que atribuem a picadas de cobras ocorridas há anos. Outros afirmam que o veneno das serpentes acarreta impotência sexual permanente. Na verdade, nada disso tem base científica, cabendo mais na definição de “lendas”. Realmente pode haver sequelas de acidentes ofídicos, sendo a mais triste a amputação de membros (felizmente pouco frequentes hoje em dia) ou a incapacitação para o trabalho devido à perda total ou parcial dos movimentos da região afetada. 

Caso socorrido entre 6 e 12 horas após a picada. Já há a manifestação do envenenamento sistêmico. O edema já atinge uma área maior, generalizando-se.
A Drª Hui explica que é mais comum ocorrer o “déficit de função”: Se o individuo teve uma necrose que atingiu músculo ou tendões, perderá imobilidade. Aqui no Hospital Vital Brazil, as necroses ocorrem em apenas 10% dos casos. É a ação do veneno que acarreta tais danos, e não a perfuração pelas presas das cobras. “Podem ocorrer também as chamadas infecções secundárias, pois no ato da picada, a serpente, além de inocular o veneno, também introduz no organismo da vítima os microorganismos que tem na boca, o que agrava o quadro geral”. Não há lógica em se afirmar que existem danos causados pela permanência de veneno no organismo após a cura do paciente, já que o veneno em si e neutralizado rápida e totalmente após a administração do soro, no início do tratamento. No entanto, é preciso observar o período de tempo necessário para que o edema local desapareça. O paciente deve se manter em repouso durante o prazo que for recomendado pelo médico.
                                             PREVENÇÃO DE ACIDENTES
Mais de dois terços dos acidentes ocorrem na região do joelho para baixo. O uso de botas reduz em 80% esse risco. 

O efeito do garrote: a região onde foi presa a circulação concentrou maior quantidade de veneno, tendo sido visivelmente mais prejudicada.
Além disso, é necessário redobrar os cuidados ao manusear gravetos ou montes de folhas, por exemplo. Opte por realizar tais tarefas com o auxilio de uma varinha ou galho. As serpentes são animais de sangue frio e mantém-se sempre à temperatura ambiente procurando evitar a perda de umidade. Assim elas se recolhem durante as horas mais quentes do dia e saem no início da manhã e fim de tarde em busca de alimentos ou apenas para passear. Evite essas oportunidades de encontrar-se com elas quando vocês estiverem compartilhando o mesmo habitat. Em acampamentos, é recomendável fechar os carros e não deixar restos de comida e lixo exposto. Além da agressão ao meio ambiente, esse procedimento atrairá a vista de roedores, que são a base da alimentação das cobrar venenosas. Elas naturalmente irão atrás deles. Nem sempre é aconselhável levar soro antiofídico em suas incursões na natureza, devido às dificuldades de armazenagem (deve ser mantido sob refrigeração constante) e aplicação – só um profissional de saúde saberá determinar o tipo e a quantidade de soro apropriado a cada caso. 

Caso socorrido aproximadamente 24 horas após a picada. Além do edema característico, nota-se a presença de regiões necrosadas no dedo anular. Em todos os casos fotografados, os acidentes foram ocasionados pelo contato com jararacas  
Não se esqueça de que existem serpentes não peçonhentas que também picam, e se não há inoculação de veneno, o soro é desaconselhado, já que contém anticorpos de cavalos, ou seja, proteínas estranhas ao organismo humano, que pode manifestar alguma reação do tipo anafilático. Cada soro é específico para um tipo de veneno. Se você não sabe determinar qual é o adequado, é conveniente não arriscar. Se uma serpente lhe picar, o melhor é movimentar-se o menos possível para retardar o alastramento do veneno na circulação e solicitar que alguém busque auxílio rapidamente. Antes de sair para pescar ou acampar em locais onde exista a possibilidade de um encontro com serpentes, informe-se sobre o posto de atendimento médico mais próximo de onde você ficará. O tempo, como você já sabe, é o principal fator determinante do sucesso na recuperação de um acidente ofídico.

Drª Fan Hui Wen
       EM DEFESA DA SERPENTE PEÇONHENTA


Como todos os animais na Natureza, as serpentes desempenham seu papel no ecossistema que integram, alimentando-se de roedores como ratos, camundongos e preás. O uso indiscriminado do espaço e do solo pelo homem com plantações, criações e moradias contribui para aumentar o número de roedores, que também são atraídos pelo lixo das regiões metropolitanas. Os desequilíbrios biológicos causados por inundações, desmatamentos e queimadas faz com que as cobras, como outros animais nessas circunstâncias, sejam obrigadas a mudar seus hábitos. Em tais ocasiões, elas passam a buscar abrigo e proteção em casas, celeiros, etc. Não se pode mais matar impunemente uma serpente só pelo fato de ser considerada repulsiva ou só porque está viva. A principal finalidade do veneno que ela possui é garantir sua própria defesa. Uma cobra não ataca um ser humano somente porque ele invade seu habitat. Ela se limita a reagir às situações onde se sente em perigo. É interessante notar que as serpentes venenosas são menos agressivas que as não venenosas. Como animais silvestres que são, as serpentes têm direito à mesma proteção legal que o restante de nossa fauna nativa. Pelo menos no papel. Se nada na natureza sofresse a interferência negativa do homem, todas as espécies viveriam em harmonia e perfeito equilíbrio. A realidade ainda não é assim porque o homem segue relutando em entender a si mesmo como apenas mais uma manifestação da própria natureza.
Reportagem: Paula Lopes da Silva


Revista Aruanã Ed:37 Publicada em 12/1993

sexta-feira, 10 de julho de 2020

UM (PEQUENO) PEIXE MUITO ESPECIAL







Em nossa ictio-fauna existem espécies que se descobertas, são verdadeiras jóias raras. Tal é sua característica e modo de vida. Na maioria das vezes, um peixe, por ser bastante comum, não recebe a importância que realmente tem. É o caso do amboré. Vamos conhece-lo.

Balaio de 
O amborê está classificado cientificamente na família dos Gobiidae, e seu nome é Gobioides broussonnetii. Sua coloração principal é de tons amarronzados com pequenas manchas claras branco azuladas. Sua principal característica é que ele possui na parte inferior do corpo, nadadeiras ventrais, transformadas em discos adesivos. Suas escamas são quase subcutâneas. Sua presença está registrada em todo o litoral brasileiro e até o México. Seu habitat preferido são as tocas de pedra e grotas, podendo ser tanto em água salgada, como doce e salobra. Pesca-se o amborê usando-se um anzol pequeno, com uma pequena vara ou linha de mão, um pequeno chumbo e como isca, pedaços de camarão descascados. 

O pequeno amborê 
A melhor maneira de pesca-lo é em se estando em locais de pedra, descer a linha por entre as grotas e ficar observando, já que se consegue ver quando o peixe abocanha a isca. Um ou dois metros de “linhada” serão mais do que suficientes para essa “pescaria”. O tamanho que o amborê atinge é aproximadamente 15 centímetros. Mas porque dizemos que o amborê é um peixe muito especial e porque é que algum pescador vai perder tempo para fisgar esses pequenos peixes, que não servem nem para comer? É exatamente nesse ponto que queríamos chegar, e agora sim, o pescador amador vai entender. Preparem-se então, pois o pequeno amborê é uma das melhores iscas para robalos, pescadas, meros, badejos, garoupas, caranhas, e mais uma enorme quantidade de peixes esportivos. 

Amborês fisgados com baratinha do mar 
Não há uma só espécie das espécies citadas que não tenham no amborê, a melhor de todas as iscas. Em algumas regiões, na pescaria de robalos e pescadas, ele chega a ser melhor que o próprio camarão vivo. Sua serventia como isca pode ser comparada à do lambari nas águas doces. E inúmeras vantagens o amborê tem como isca. Por exemplo, ele não morrerá de maneira alguma, mesmo que fique quase sem água. Em um pequeno recipiente, poderemos colocar vários desses peixinhos, que eles aguentarão horas e...dias. Sua fixação no anzol é muito fácil de ser feita, sendo no entanto melhor isca-lo pela boca ou dorso. Quando iscado, poderá o pescador dar longos lances com seu equipamento, que o amborê não cairá do anzol, permanecendo vivo enquanto nele estiver. 

A ventosa 
Aqui está portanto, uma dica muito importante e sem exageros podemos afirmar que o amborê é uma das melhores iscas para se pescar as espécies citadas nesta matéria. Mas as nuances do amborê não acabam aqui, pois além de ser uma ótima isca, tem algumas curiosidades interessantes. Ele tem também a incrível capacidade de vir para a terra (nos manguezais) para com muita facilidade de locomoção, caçar pequenos insetos e crustáceos. Uma outra particularidade interessante do amborê é que se ele ficar, por qualquer motivo, preso a alguma lagoa ou pequena quantidade de água, se esta começar a secar, simplesmente ele vai para as margens e consegue percorrer grandes distâncias por terra, até achar achar uma lagoa para sua moradia. 

Pescando amborés
 Nesse percurso, o amborê tem um jeito todo especial de “andar”, que consiste em movimentos iguais ao de uma cobra, só que bem mais rápido, parando vez por outra para descansar. Um outro fato interessante que pudemos observar nessas caminhadas, é que sua pele fica seca, parecendo uma folha e talvez isso lhe sirva de disfarce para algum predador que o queira fazer de alimento. Quando se vê um amboré nessas condições, é só tentar chegar perto, que ele fica completamente imóvel, recomeçando a caminhada só quando sente que há novamente segurança. Se não se ver um amborê “andando”, quando ele pára, fica quase impossível de se identificar o peixinho, pois sua coloração é igual ao local onde está. No Brasil, dependendo da região onde ele está, pode ser conhecido por vários nomes, e entre esses destacamos: amaré, aimoré, amaré-guaçu, chimoré, moréia-do mangue, amoré, amaborê, amoréia, babosa, cundunda, emboré, amiuíra, maria-da- toca, muçurango e tajacida.

Revista Aruanã Ed:26 Publicada em 02/1991

sábado, 4 de julho de 2020

EQUIPAMENTO - AS VARAS DE PESCA MACIÇAS







Foto Kenji Honda

Com a moderna tecnologia e com materiais novos, as varas de pesca foram ficando cada vez mais sofisticadas. Isso ocorreu Há apenas alguns anos atrás. Antes, tudo era diferente. Confira.


Uso com equipamento pesado
Ao se falar de varas de pesca nos dias atuais, vamos encontrar nomes como conolon, borom, grafite, titânio, ou então siglas como IM6 ou IM7, além das tradicionais medidas em libras, que o pescador brasileiro menos informado pensa ser a resistência da vara, mas nada mais é do que a indicação da capacidade em libras das linhas a serem usadas, dependendo do modelo da vara. E tem coisa pior, já que as medidas dessas varas vêm marcadas em pés, medida essa totalmente estranha aos nossos usos e costumes. Aliás, bem recentemente, essa confusão em libras, polegadas e pés, atrapalhou até o satélite da toda e poderosa NASA, a Agência Espacial Americana, pois além dessas medidas seus técnicos usaram também o sistema em metros, e a confusão se estabeleceu, levando o satélite para o “espaço” literalmente. Há cerca de 20 ou 30 anos atrás, as nossas varas de pesca eram feitas da famosa “fibra de vidro”, que tinham como diferença de hoje, apenas o peso, já que punhos, passadores, cabos e ponteiras, até hoje, seguem os mesmos modelos. Na onda dessas varas modernas, foram muitos os pescadores que embarcaram, tendo sempre como preocupação o peso das mesmas.  

A linha de fabricação das varas Yamato - Todas maciças
Nós até que concordamos, em parte, no uso dessas varas mais leves, e abrimos essa exceção para aqueles pescadores que gostam de pescar com iscas artificiais e, portanto, dão centenas de arremessos durante uma pescaria, sempre com a vara de pesca nas mãos. Realmente nesse caso, o peso da vara influi e muito, não na pescaria, mas sim no cansaço do pescador. Mas existem casos em que as varas maciças ainda são insubstituíveis em diversos tipos de pescaria. Querem exemplos? Pois bem, vamos a eles. As chamadas pescarias barra pesadas são um bom exemplo disso. Além do que, lógico, as varas maciças quebram muito menos do que as atuais varas modernas. Digamos que o pescador esteja em um rio qualquer, fazendo uma pescaria barra pesada, tipo jaú, pintado, filhote, piraíba ou pirarara, e usando uma linha bitola 0.90 milímetros. Para os “professores” que vão estranhar essa bitola de linha, podemos afirmar que em alguns locais onde haja muito enrosco essa bitola será necessária. Na hora em que se fisgar um grande exemplar dos peixes citados e não se possa dar linha (enrosco), fica a pergunta: qual será das duas varas que irá agüentar esse “tranco”? 

Pirarara
A resposta é simples e objetiva: a vara maciça.  Temos ainda outros exemplos, e estes se referem às pescarias na chamada zona da água azul. Nesses locais, onde dificilmente teremos enroscos, a vara maciça ainda tem a sua real utilidade, principalmente quando o peixe estiver prestes a ser embarcado, pois por várias vezes vimos varas ocas quebrarem na luta final com o peixe. Neste caso do peixe, podemos estar nos referindo aos grandes marlins, atuns (alguns com mais de 100 quilos), cações e tubarões e outros. Existem ainda pescadores de água azul que fazem questão de montarem suas próprias varas maciças, usando então aqueles cabos especiais, passadores e ponteiras com roldanas. Como se vê, a velha e boa vara maciça ainda é muito usada nos dias de hoje. E temos ainda alguns detalhes a mais para falar de varas maciças. Quanto a resistência das mesmas, acho que não precisamos mais nos preocupar com isso, já que, nessa regra, não existe exceções. Mas temos outros pontos a esclarecer. Se por um acaso qualquer pisarmos na nossa vara de pesca, e se a mesma não for maciça... adeus, ou então vamos leva-la para o conserto e a antiga “ação” da vara original já era, pois com a emenda nunca mais será a mesma. 



Vara maciça no corrico
Outra pergunta: quantas vezes, em viagem de carro ou avião, na bagagem ou em uma batida de porta de carro, a ponteira de nossas varas ocas quebraram? Pois é pescador, vamos começar a dar valor às “velhas varas maciças”. Um outro exemplo são as varas de duas sessões, ou seja, em duas partes. Se a vara for oca, é inevitável que o primeiro lugar onde ela pode quebrar será sempre na emenda, e aí lá vai ela para o conserto, ficando com os mesmos problemas citados anteriormente. Na vara maciça, a emenda será o último lugar a sofrer qualquer dano, já que terá encaixe de metal, fortalecendo-a ainda mais. Para encerrar, não vamos nem falar nas batidas das varas ocas contra pedras, bordas de barcos, ou ainda e pior, batida de vara contra vara, que costuma acontecer quando dois pescadores estão pescando muito perto, em um barco por exemplo. Finalmente, e agora o pescador irá gostar: o preço. No mercado de hoje, as varas ocas são todas importadas, e seus preços são calculados em dólar. As varas maciças são fabricadas no Brasil e, dependendo do modelo, chegam a custar de 80 a 90% mais barato do que as importadas. Boa pescaria.

 Revista Aruanã Ed:72 Publicada em 02/2000